Ana Júlia, Jader Barbalho, Beltrano, Sicrano e Vera Fischer

Caros amigos,

Ontem na SEDUC conversei com dois amigos petistas. Era hora do almoço. E um petista, Sicrano, dirigiu-se em sentido de afronta, por outro e perguntou: “Beltrano, vamos fazer uma aliança estratégica com o Jader ou depois a gente vai chutá-lo?”.

O petista Beltrano respondeu ao Sicrano: “Óbvio que sim. É apenas tática!”.

Foi quando Sicrano retrucou: “Beltrano, isso é perigoso!”.

Ao vê-los conversar, eu observei em tese que aparentemente o problema da chegada das esquerdas ao poder no Estado do Pará e sua conservação não estaria resolvido com a formação político parlamentar de um bloco de governabilidade.

O próprio Sicrano insistiu no debate com o Beltrano que a impressão dele é que debater aliança de centro-esquerda no PT/PA é uma coisa temerária para todos eles, até porque “sabemos que isso significa SIM aliar com partidos tidos no máximo como de centro, como o PMDB, PL, PP e o PTB”.

Continuou Sicrano: “Mas há setores dentro do PT que não sabem se a aliança com o PMDB do Jáder é apenas tática? Ou é estratégica?”.

É claro que nesse diálogo percebi que há um grande medo por parte de setores do mundo petista paraense em relação a esse assunto (coligações eleitorais, por exemplo, com o Jader), tendo em vista que, por arquétipo, para esses próprios setores petistas, a constituição de um novo campo político liderado pelo PT pode representar uma aliança de centro-direita, tendo o PT como o elemento do centro. Esse é o medo da auto-referência da "ala mais a esquerda da PT", porque segundo Beltrano: “que é plenamente justificável, pois é exatamente isso que a conjuntura política paraense está desenhando: uma aliança no máximo de centro, sem querer olhar pela "bola de cristal".

E aí Beltrano justificou novamente sua apreensão porque há companheiros que vêem com apreensão o futuro do PT no campo da esquerda - companheiros históricos que têm medo de que o PT, o velho PT com cara de jovem depois de uma competente plástica, transforme-se, na verdade, numa sigla que nega a sua história em troca de alianças puramente fisiológicas e que isso é insuportável para os velhos petistas.

Beltrano, já um pouco mais nervoso insistiu (pudera ele estava comendo maniçoba), em dizer que tem sim razão em temer esse giro de 180°, de uma posição de partido de esquerda para alguma coisa "direitosa" e que mente para si mesmo que é de “centro-esquerda”.

Foi quando Sicrano começou a falar e retrucar. Começou a dizer que o PT do Pará hoje não é apenas uma idéia - mas uma agremiação política que pode e chegou ao poder político em 2006, e agiu como um partido que buscou esse objetivo. Nesse sentido, uma das mais importantes reformas do PT/PA foi a adoção completa do jogo democrático, ou seja, ser um partido como os demais partidos e querer alcançar o poder político: “Muito bem. Têm-se projetos próprios e quer executá-los. Ocorre que essa ousadia política é muito nova entre nós e por isso parece estranha”.

Para Sicrano, setores da esquerda paraense hesitam em assumir uma política de coalizão democrática. Todas as justificativas que possam ser apresentadas para esta recusa constituem razões adicionais para a defesa de uma nova esquerda. Sicrano avalia que essas justificativas têm sempre um elemento comum: a rejeição da política democrática como o caminho para a concretização de mudanças sociais e econômicas que afirmem os interesses dos trabalhadores e da imensa massa de paraenses excluídos do consumo, do mercado de trabalho e do exercício de qualquer direito social, enfim, da cidadania.

Sicrano continuou avaliando sua tese que nenhuma formação política aqui no Pará que aspire à representação dos interesses dos trabalhadores e das grandes maiorias pode prosperar sem oferecer respostas eficazes aos desafios impostos pelo cotidiano da luta política, tecendo alianças, forjando novos compromissos, impondo a sua presença no centro dos acontecimentos.

Sicrano conclui que a força de um partido depende da inteligência com que intervém na arena política. A contabilidade dos votos constitui, por certo, um poderoso indicador da capacidade de um partido agregar interesses e expressar expectativas. Contudo, se falta sabedoria para se antecipar aos acontecimentos, prever conseqüências e definir uma estratégia - distanciando-se, portanto, do que é imediato e contingente -, “o êxito de hoje pode ser o fracasso de amanhã”.

Sicrano, que comia pato no tucupi, nesse momento agachou-se e tirou de sua pasta um livro e na hora leu um trecho pra nós dois: “Lauande e Beltrano, isso que vou ler é uma frase do Lênin no livro O QUE FAZER sobre aliança política”.

Beltrano logo interrompeu: “Porra, Lênin não vale!”.

Sicrano replicou: “Por quê?”.

Beltrano, meio cabisbaixo, falou: “Pô, eu sou leninista!”.

Sicrano devolveu na hora: “Por isso mesmo que eu quero citá-lo!!”

Neste momento eu já estava curioso e pedi logo que Sicrano fizesse a leitura. E ele leu: “Só podem recusar as alianças, mesmo com elementos inseguros ou com antigos adversários, aqueles que não têm confianças em si próprios; e nenhum partido político poderia existir sem essas alianças”.

Depois da leitura, Beltrano olhou pra nós e disse: “Vamos mudar de assunto...Será que a Vera Fischer continua gostosa?”.

E caímos na gargalhada.

Aquele abraço,
Lauande.