Caros amigos,
Vou reproduzir alguns trechos de um denso debate de dois componentes da Confraria Cachorrada, numa sessão ordinária, há duas semanas atrás, no Bar Copa 70. Tudo regado com muita birita e ao fundo com o som do rock dos anos 80.
Os debatedores eram: os meus amigos Leandro (Leleco) Vale Ferreira e Samuel (Samuca) Soares de Almeida (pesquisadores do Museu Goeldi e biólogos) e o tema era sobre “as interdisciplinares acadêmicas”.
Samuca começou o debate e colocou de pronto que “as interdisciplinares acadêmicas” é um paradigma - no sentido kuhniano do termo - em vias de ascendência da especialização flexível. E quem não adotá-lo está com um pé fora do novo mundo acadêmico em construção. Daí a necessidade de sermos todos nós (acadêmicos) interdisciplinares. Samuca, neste sentido, igualmente colocou que não devamos ter medo de sermos chamados de ecléticos ou sincréticos, o que é anátema e abominação nos campos da ortodoxia acadêmica (pelo menos a academia positivada ou positivista). É também por isso que o Samuca disse que ele caminha em áreas fronteiriças, elaborando também nas bordas das ciências sociais e muitas vezes transpondo-as, para horror de seus pares biólogos mais - ou mesmo menos - ortodoxos.
O Leleco disse que concordava com o Samuca e acrescentou que as ferramentas, por exemplo, da lógica matemática são poderosíssimas no trabalho que ele desenvolve sobre as perspectivas futurísticas do desmatamento da Amazônia. Por outro lado, Leleco acredita que é uma pena que o paradigma da especialização rígida - cujos méritos ninguém quer negar, pelo estupendo progresso que ele ensejou e pelos relevantíssimos serviços que prestou à Humanidade - tenha afastado as ciências umas das outras (sobretudo as Exatas e Naturais das Sociais).
Na continuidade do debate, Samuca opinou conclusivamente que esse Big Bang dos saberes, se por um lado permite uma constante dilatação deles (em alguns casos uma verdadeira explosão), provoca uma expansão empobrecida de cada um deles, isoladamente considerados. Daí a necessidade sempre das “interdisciplinares acadêmicas”.
É quando Samuca lembra de um fato intelectivo: “Veja, por exemplo, o mau que causou para a Física seu afastamento da Ética e da Filosofia. Será que a Física deve mesmo ser colocada à serviço da destruição da Humanidade, via bombas A ou H? O mesmo se diga da Economia, cujo núcleo rígido não incorpora a Ética, porque assim formulado por um de seus pais, Adam Smith (em A Riqueza das Nações). Nesse ponto concordo que é hora de recriar essa dita Ciência da Economia, refundando-a. O nome não é bonito, mas funciona: econologia (economia + ética + ecologia)”.
Ao concluir, Leleco reafirmou sua convicção nas “interdisciplinares acadêmicas”: “Estou convencido que é mesmo hora de religar os saberes. Sem medo, repito, de nos apontarem os dedos para nos acusar de sincretismo e ecletismo. É hora mesmo de miscigenar os saberes, as ciências e as técnicas”.
Com todos nós já estávamos etilicamente avançados, eu me lembro até aí da historíola desse importante e intenso debate.
Em cima a foto dos amigos Samuca e Leleco (da direita pra esquerda respectivamente) lá pelas bandas de Curuçá quando faziam pesquisas sobre o mangue naquela região. E como dizem os cristãos: “(...) como eles são filhos de Deus, beberam muito e comeram muitos caranguejos”.
Aquele abraço,
Lauande.
2 comentários:
Ègua, Lauande, tô nessa. Qualquer dia volto lá no copa. Gostei muito. beijos.
Debatalcoólico!
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