O cantinho dos Comunistas: Humberto Cunha.

Caros amigos, vou sempre colocar reminiscências de grandes comunistas do estado do Pará e do Brasil aqui no meu Blog. É "O cantinho dos Comunistas". Inauguro como um texto pequeno do meu amigo comunista Humberto Rocha Cunha. Pra quem não sabe, Humberto Cunha foi ex-vereador de Belém, agrônomo, educador e hoje é professor no RS.

Este texto foi publicado no dia 14/12/02. Portanto, faz 4 anos que ele foi publicado na Lista Democracia. Vale a pena lê-lo.

“Não adianta o jogador dizer que é bom, quem tem que dizer é a torcida. Por isto, às vezes, a melhor forma de responder é não responder. Até porque a técnica do xingamento já é bem conhecida: quem está na obscuridade joga pedra em quem está no palanque; se este responder, o obscuro torna-se seu interlocutor e tem direito aos refletores, tanto quanto quem já estava ali. Sobre o Genoino, tenho a dizer que devo tê-lo conhecido durante o período da UNE clandestina, na década de 1960. Todavia, nosso primeiro encontro frente a frente foi no DOPS de São Paulo, em 1973. Eu estava preso no Carandiru quando fui absolvido em dois dos meus processos. Como no terceiro a pena máxima para o artigo no qual eu era acusado era de dois anos e eu já havia cumprido mais de um ano de prisão (mais de cinqüenta por cento da pena máxima), o STM mandou a Auditoria me libertar para aguardar o julgamento em liberdade. Então, como era o costume, fui levado ao DOPS para uma sessão de provocação: uma reinquirição totalmente ilegal, visando achar alguma contradição com base na qual pudessem nos manter presos. Foi neste contexto que passei pelo Genoino, na cela de isolamento conhecida como Fundão. Por quê Genoino estava no Fundão? Porque se recusara a obedecer a ordem do Diretor do DOPS que proibia de cantar ou assoviar! Assoviou, foi para o Fundão! Ao passar por ele, aproveitei um descuido do carcereiro e fiz-lhe uma saudação com o punho fechado. Quase fui parar na solitária junto com ele! Depois fui solto, voltei para o Pará, fui preso novamente, solto outra vez, terminei meu curso de Agronomia, iniciei meu trabalho de educação camponesa no Baixo Tocantins, fundamos a SDDH, fizemos a campanha da Anistia etc. Em 1979 tornei-me presidente da SDDH e encontrei uma forma de trazer várias personalidades de diversos matizes a Belém. Uma dessas personalidades foi o Genoino. Posso dizer que, depois da guerrilha, a primeira vez que ele pisou no Pará e pronunciou-se em público foi por minha iniciativa. Juntos fizemos a campanha da constituinte e das diretas, fundamos o PRC e com ele convivi dez anos no processo de fundação e no Comitê Central, bem como nos movimentos sociais e no PT. Depois divergimos, ele é um dos fundadores da Nova Esquerda e eu da Tendência Marxista, depois Movimento por uma Tendência Marxista. Em 1972, decidi que a melhor de forma de apoiar a Unidade Popular seria desfiliar-me de qualquer partido e trabalhar pela Frente Popular, de forma ampla, enquanto Genoino continuou no PT. Contudo, nunca perdemos o respeito mútuo. Eu subscreveria todas as idéias do Genoino? Seguramente, não. Eu diria que ele é um traidor? Não encontro na fala dos que defendem essa tese argumentos consistentes. Prefiro considerá-lo um militante e, como tal, construtor de erros e acertos, como qualquer outro. No mais, se um dia a esquerda brasileira aprender as regras da vida civilizada, de que mais vale um pequeno diálogo do que uma grande briga, talvez tenhamos um debate mais produtivo, em que os adjetivos, se forem necessários, fiquem para o final e não sejam colados previamente como rótulos. Um grande abraço e um bom fim de semana. Humberto Cunha”