15 de junho de 2007

A execração contra os ateus.

Sou ateu.

Mas não faço cavalo de pau por esta minha convicção e muito menos sou de alguma corrente para defender o ateísmo.

Acontece que é impressionante como nós ateus somos discriminados nesta sociedade.

Na esteira da visão judaico-cristão, entre o bem e o mal, quem não reza pela cartilha divina de algum deus, logo se tem execração e vai para os quintos do inferno.

No último domingo o Papa Bento XVI disse “falta deus em muita gente neste mundo”.

Sim, quer dizer que como eu não tenho deus, por conseguinte eu sou um cara mau caráter?

Ou, prontamente, pela tese papal, eu estou em descaminho com minha condição humana porque tenho que acreditar em deus e tudo será mais perfeito.

É um absurdo essa tese. Tenho uma família e muito amigos católicose e nunca fiz alguma discriminação pela opção deles. Muito pelo contrário. Como adequado sujeito democrático, os respeito.

Eu digo isso porque não é nada de especial, vivo sem deus e sei como se construíram as sociedades modernas. Não sou agnóstico, por saber que uma questão de fé não se reduz a outra de conhecimento.

Não precisei de mandamentos de um ser “omni-tudo-e-mais-alguma-coisa” para me portar decentemente.

Sou um ateu “normalizado”, sem grandes esperanças na falta de futuro da ilusão divina. Mas sou um otimista com a condição humana.

Ontem, por exemplo, vi pela CNN num documentário sobre o Papa Bento XVI, mais uma vez, a exigência de desculpas (desta vez de islamitas a católicos) o que me deixa perplexo com o esquecimento dos ateus e novamente surge a frase: “falta deus em muita gente neste mundo”.

Todos os dias, não há fanático ignorante da sua própria religião que não perore sobre a “crise de valores”, “o relativismo”, “a decadência de costumes”, e muitas outras coisas ainda muito piores, atribuindo-as a “uma época que não escuta Deus” e outras pérolas do gênero com que encobre estar a falar para os seus (não praticantes), muito mais do que para ateus pacíficos e civilizados que vivem tranquilamente uns com os outros e, até, com crentes preconceituosos, violentos e antipáticos que nos insultam sem nos conhecerem de lado nenhum.

Daí a perplexidade com o esquecimento: quando é que os “crentes” se vão lembrar de nos pedir (“exigir” é ameaça, nem conta para nada) desculpa por todos os insultos, calúnias e ameaças que todos os dia nos fazem?
Afinal, nenhuma doutrina política, filosófica, etc., tem no currículo tantas mortes, perseguições, crimes de todo o gênero como qualquer uma das grandes “religiões” (irônica designação, a não ser no que de sarcástico, mas infelizmente real ela comporta).

Como ateu, não preciso das desculpas deles para nada, bastava-me que deixassem de aumentar o seu longo currículo de barbaridades. Mas estranho que tanta gente fale das desculpas necessárias do Papa ao Islão (para me cingir a este caso) enquanto não há quem se lembre dos mais constantemente atacados, sem qualquer justificação: os ateus.

Será por não andarmos por aí a falar em público do “nosso Absoluto” para justificar massacres?

De qualquer modo, por mais que ameacem, ou sejam cúmplices com os que ameaçam (quando convém), não tenciono converter-me. Pela minha razão e com a minha ética, passo bem como estou. E não ofende quem quer seja.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo em número, gênero e grau.
Creio que já tinhamos conversado sobre isso, e devo ter mencionado sobre a "demonização", oriunda ainda de tempos remotos como a idade média, dos ateus. O pior de tudo é que esta atitude não se limita somente aos descrentes na existência de um deus, mais também abarca todos aqueles que não compartilham do ideal (que não morre no idealismo) ocidental cristão, formando assim uma corrente ofensiva àqueles que não corroboram com ela.
E quando dizemos que somos ateus sempre paira a pergunta nos nossos ouvidos:
-Prove que DEUS não existe!

Ora não existe prova do que "NÃO" (na opnião dos ateus) existe!

Se não cremos em algo é porque não conseguimos reunir provas suficientemente "boas" para que isto seja considerado.
O que é verdade é que nunca, na condição de ateu, tentei provar pra um religioso que deus não existe, o que quase sempre não é recíproco.
E creio que isso deve acontecer com a maioria dos ateus.

Abraços!

Eduardo André Risuenho Lauande disse...

Valeu, meu filho, pelo teu debate!