19 de junho de 2007

O elitismo ideológico dos Maiorana e do tucanato.

Eu fico impressionado como aqui na nossa terra nós temos um elitismo que é dominante e extremamente ideológico.

Por que eu escrevo isso?

O Governo do Estado do Pará lançou o Planejamento Territorial Participativo (PTP) e logo veio a carrada ideológica da nata secular do elitismo paraense.

Dois representantes dessa elite me chamaram atenção: as Organizações Rômulo Maiorana (ORM) e recentemente um reacionário parlamentar tucano.

As ORM, através do seu cosmético e chantagista jornal, O Liberal, declararam, transversalmente nos seus editoriais e na sua afamada Coluna Repórter 70, as suas toxinas políticas preconceituosas contra o PTP.

As ORM partem da argumentação do tradicionalíssimo mote da incapacidade técnica (quando não também moral) da população comum em participar de decisões sobre assuntos de interesses coletivos.

Mas aqui as ORM não dizem e nem assume que o menor grau de informação da maioria da população é exatamente fruto de uma sociedade desigual, na qual se encontra cristalizado e sancionado um acesso brutalmente desigual a informações.

Além disso, eu sempre digo que a incapacidade intelectual dos cidadãos comuns é tremendamente exagerada e distorcida.

Em primeiro lugar, evidências abundam a mostrar que os cidadãos comuns, mesmo pessoas analfabetas, não são necessariamente estúpidos, sendo, isso sim, comumente capazes de dialogar com os técnicos, desde que esses se disponham a um diálogo.

Em segundo lugar, conquanto seja natural que não se deverá exigir dos cidadãos comuns proficiência em todos os assuntos propriamente técnicos, essa é uma falsa questão, pois o que importa é que as pessoas sejam correta e honestamente informadas a respeito de propostas, custos, etc, de modo que possam decidir a respeito dos fins, dos objetivos.

Eu lembro que os técnicos e cientistas são insubstituíveis enquanto tais, devendo atuar na qualidade de consultores ou assessores dos cidadãos, prestando esclarecimento fidedignos imprescindíveis aos processos de tomada de decisão.

Algumas dessas objeções das ORM expressam, por conseguinte, ainda mais um juízo de valor ideológico elitista e antipático ao envolvimento dos “de baixo” ou quando não eles dizem que é “inviável a participação deles em grandes planejamentos”.

Por isso a esmagadora maioria do pensamento das ORM é exagerar enormemente nos obstáculos à implementação da participação societária.

Já no caso do parlamentar tucano, ele demonstra outra forma de elitismo ao considerar que a representação ‘política’ tende a ‘educar’ as pessoas na convicção de que elas não poderiam gerir os problemas da sociedade, que existe uma categoria especial de homens dotados da capacidade especifica de “governar”.

Eu lembro, ao contrário do parlamentar tucano, que igualmente nos nossos parlamentos falta transparência, e são deficitários em matéria de prestação de contas ao público e também por ter pouca convocação da representação participativa da sociedade civil.

Além disso, a ‘representação’ é, como o perdão da metáfora, como entregar um cheque em branco assinado para alguém que não se conhece muito bem, com a vaga promessa de que esse alguém sacará apenas um determinado valor da conta, e não mais.

Ou, parafraseando um célebre dito de Rousseau acerca da liberdade dos ingleses, a representação equivale a uma liberdade fugaz, exercida um dia a cada quatro anos. Uma fugaz liberdade para passar um cheque em branco em favor desse ou daquele político, e na ausência de mecanismos efetivos de controle (maior transparência, acesso de informações confiáveis, fácil revogabilidade dos mandatos).

É bom que se diga também que o executivo domina o processo legislativo porque tem poder de agenda e esta agenda é processada e votada por um poder legislativo organizado de forma altamente centralizada em torno de regras que distribuem direitos parlamentares de acordo com os princípios partidários. No interior deste quadro institucional, o chefe do executivo conta com os meios para induzir os parlamentares à cooperação.

Da mesma forma, parlamentares não encontram, em geral societário, um arcabouço institucional próprio para perseguir interesses do povo. Ao contrário, a melhor estratégia para obtenção de recursos visando retornos eleitorais é votar disciplinadamente com seus próprios interesses pessoais.

Portanto, o elitismo das ORM e de certos setores do tucanato vai continuar porque faz parte do processo de constituição ideológica da elite paraense.

7 comentários:

Anônimo disse...

Excelente teu artigo, Lauande.

Anônimo disse...

ègua, Lauande, falou e disse: realmente esta nossa elite é ideologcamente reacionária. Batriça, vou divulgar este bom artigo na internet!

Anônimo disse...

Lauande, Gostei do teu também. Este teu texto me lembra o debate entre esquerda e direita. O mestre Bobbio designa esquerda como relativo àqueles que investem num maior equilíbrio de distribuição de renda, de oportunidades e de participação política. Direita é o oposto. Tá cheio de gente com mentalidade "direitista" que não se declara como tal. Em tempo, é preciso lembrar que a estrutura do Estado e da sociedade é "de direita", isto é, não trabalha pela distribuição de renda, pela igualdade de oportunidades e nem incentiva a participação política. Quem sabe, por isso é necessário falar que as ORMS são mesmo de direita e vão sempre fazer seus preconceitos.

Anônimo disse...

Lauande,não te conheço mas visitando o teu blog, concordei com a análise no artigo ! Elitismo Ideológico dos Maiorana e tucanos". A única coisa que me causou estranheza em vc foram os elogios ao Hiroshi Bogéa, um conhecido blogueiro de Marabá que tem o passado mais sujo do que pau de galinha.Você está acima disso cara. Tú tens outra cabeça meu chapa.

Sylvia disse...

Por que nao mencionar o nome do político? Isso também parece extremamente arcaico...

Anônimo disse...

Silvia, é o Zenaldo!

Eduardo André Risuenho Lauande disse...

Caro anônimo, o Hiroshi Bogéa é um bom jornalista e isso pra mim já basta.