
Vencer matéria hoje? Acho difícil. Eles não vão deixar. Hoje vai cair a ficha. Você é um professor. Eles vão te dizer isso – hoje, 15 de outubro. Recreio direto! Parabéns!
O recreio é o melhor momento da escola
Sou professor. Eu tenho orgulho da minha profissão. Não caio nessa de dizer que é sacerdócio. Eu faço tudo por prazer, mesmo na adversidade salarial e profissional. Em todos os anos como docente, eu nunca gostei de palavras como disciplina, prova, chamada de presença e reprovação. Isso não é educação: é coerção. E coerção não educa porque é constrangimento. Eu sempre digo que o aluno não tem que ser disciplinado e muito menos tem que provar nada. Ele tem que ir quando quer e apenas criar. Por isso nunca fiz prova pra aluno e o que eu peço é que ele crie. Isso que é o grandioso e barato de lecionar. Nunca fiz chamada de presença também porque eu penso que isso é horripilante para um professor saber que aquele aluno só vai pra aula por conta da chamada. O aluno tem que ir por deleite. Também nunca reprovei nenhum aluno porque a missão do professor não é reprovar é significar o pensamento de forma conjunta. Professor não tem o dom da verdade e tem que apostar na criação do aluno. Com esse meu pensamento, eu penso que recuperar o prazer, perceber nosso direito ao prazer é sair desse abismo de alienação, de pessimismo em que a maioria dos escolas atuais se encontra. Para sair dele, é preciso lutar, é preciso ter alma, em seu sentido etimológico, “alma, anima-animar” como bem queria Drummond. Fazer vibrar a alma para sentir prazer, no qual moram sonhos e desejos. Resgatar a alegria das profundezas onde está escondida pela educação retrógrada e tradicional. Utopia? Pode ser para algumas pessoas que não acreditam na educação e no prazer. Porque a educação é vista por mim, em seu sentido etimológico de “liderar para fora”: e - duco, “conduzir para um determinado fim da criação do aluno e não do professor”. Ou seja, todas as potencialidades do aluno, mediando suas atividades, apostando em sua criatividade, imaginação e inteligência e na criação e recriação de tais atividades, tanto pelo professor como pelo aluno. E nada de chamada de presença, provas e, muito menos, reprovação. Como? Concedendo a nós e ao aluno o direito à alegria, ao prazer, aos sonhos, aos desejos, por meio do componente lúdico existente na linguagem e na cultura, sustentáculos para uma efetiva interação e participação cultural, criativa e transformadora. Isso pode ser na matemática, na física, na biologia, na filosofia, etc...enfim em todos os conteúdos. Isso tudo, afinal, não é o saber-sabor? É a nossa capacidade de imaginar (pensar!) um canal precioso na produção desses sentidos, que organiza a nossa visão do mundo e dá a ela o conteúdo, forma, emoção e prazer. E essa visão de mundo só faz sentido quando mantemos com a escola uma relação sensível, crítica, criadora, afetiva, prazerosa e feliz. Ah!, pra terminar, recentemente a UNICAMP fez um estudo sobre os alunos que ficavam lá na última fila da sala. E não é que depois de anos de estudos dessa universidade paulista, conclui-se que eram eles, ditos bagunceiros, que hoje, já adultos, são os mais criativos em suas áreas de atuação. O óbvio ululante! Por isso que o recreio hoje é o melhor momento da escola porque lá o aluno cria e tem prazer.
Postado por Eduardo André Risuenho Lauande
Nenhum comentário:
Postar um comentário