15 de dezembro de 2006

Henrique Meireles

Vejam a apropriada entrevista do Henrique Meireles na Época.

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O presidente do banco central, Henrique de Campos Meirelles, é o alvo preferido dos críticos da política econômica do governo. Por defender com vigor os juros altos e o câmbio baixo, é considerado por representantes da oposição e da situação como o inimigo número um do desenvolvimento. Mas, graças a sua determinação e eficiência, o país chega ao fim de 2006 com uma inflação de Primeiro Mundo, de apenas 3%. Nesta entrevista exclusiva a ÉPOCA, Meirelles diz que se sente incomodado com a incompreensão do papel do Banco Central na economia moderna. "Quem mantém a inflação na meta é o amigo público número 1 do crescimento", afirma. "País nenhum do mundo cresce com inflação elevada e Banco Central frouxo e irresponsável”.

ÉPOCA - No momento, a questão do crescimento tomou conta da agenda do país. Como o Brasil pode crescer mais com juros tão altos?

Henrique Meirelles - Em primeiro lugar, é preciso dizer que a taxa de juro já foi muito mais alta do que é hoje. Entre 1996 e 1999, por exemplo, a taxa real (descontada a inflação) chegou a 18% ao ano. Depois, caiu gradualmente, e hoje está em torno de 8,2% ao ano, que é a menor taxa da História recente do país. É importante mencionar que a solução para o aumento da produção não passa necessariamente pela questão de juros. A taxa de juro influencia o consumo, que está crescendo a taxas maiores que a produção. Uma prova disso é que, em anos recentes, quando os juros eram bem mais altos que hoje, o crescimento foi maior. É preciso também destravar a produção para tornar o país mais competitivo. Temos de atacar as travas da produção, especialmente as de infra-estrutura.

ÉPOCA - Não dá para os juros caírem mais rapidamente?

Meirelles - Para isso acontecer, é preciso atender a algumas condições. Uma delas é que a inflação esteja consistentemente dentro da meta. Se o Brasil continuar com a inflação dentro da meta, como aconteceu nos últimos anos, a tendência é que os juros se alinhem aos padrões internacionais. Só assim os investidores passarão a acreditar que a inflação não vai subir e começarão a aceitar taxas menores em suas aplicações.

ÉPOCA - O que falta para eles aceitarem taxas menores?

Meirelles - Vou dar um exemplo concreto. No exterior, há investidores dispostos a comprar títulos públicos brasileiros com taxas prefixadas de 11,5% ao ano e prazo de dez anos. Mas aqui no Brasil ninguém está disposto a comprar esses títulos, porque não sabe qual vai ser a inflação nos próximos anos. Se todos estivessem clamando para manter a inflação na meta e se convencessem de que ela realmente estará na meta, qualquer um compraria um título de dez anos. Quanto mais pessoas pedirem uma queda artificial dos juros, mais incerteza haverá sobre o desempenho da economia e sobre a capacidade de o Banco Central controlar a inflação.

ÉPOCA - Em comparação com outros países, o Brasil ainda é o campeão mundial dos juros altos. Quando teremos uma taxa civilizada?

Meirelles - Não há dúvida de que a taxa de juro ainda é alta para os padrões internacionais. Mas sempre que um Banco Central tentou baixar os juros artificialmente eles acabaram subindo logo depois. Isso porque o mercado previu que, com a queda artificial, haveria um aumento da inflação futura. Se o Brasil continuar com a inflação dentro das metas, a tendência é os juros se alinharem aos padrões internacionais.

ÉPOCA - Alguns economistas dizem que há margem para uma queda maior dos juros. O senhor não acha que o Banco Central errou a mão?Meirelles - A taxa atual de juro é adequada para o momento. Não é a desejável, nem a que gostaríamos. Muitas pessoas acreditam que ela poderia cair mais. Mas a taxa não é definida por acaso. Ela leva em conta diversos fatores, como as expectativas de inflação, o câmbio, a oferta e a demanda. O compromisso do Banco Central é cumprir a meta de inflação.

ÉPOCA - Até agora falamos apenas da taxa básica de juro. Mas ninguém consegue empréstimos com essa taxa, de 13,25% ao ano. Os juros de cartão de crédito e cheque especial chegam a quase 300% ao ano. Isso não é caso de polícia?

Meirelles - Não me compete dizer o que a polícia deve ou não deve fazer. A experiência internacional mostra que esse problema se resolve por meio do aumento da competição entre os bancos. O governo e o Banco Central têm tomado medidas importantes para diminuir os juros, como a criação da central de risco de crédito, que concentra as informações dos bancos sobre os clientes. Ela cobre operações de valor superior a R$ 5 mil. Depois, o valor mínimo será reduzido para R$ 3 mil e em seguida para R$ 1 mil. O ideal é que ela cubra todas as operações. Assim, o cidadão, hoje prisioneiro de um banco, poderá pedir empréstimos em outras instituições que lhe ofereçam taxas mais atraentes. Dessa maneira, prevalecerá a competição, como acontece em outros setores da economia. No caso das empresas, é preciso levar em conta que 30% do total dos financiamentos para a atividade produtiva é feito hoje pelo BNDES a uma taxa de 6,85% ao ano. É uma taxa competitiva internacionalmente. Os juros do crédito rural, do crédito imobiliário e das operações de exportação e importação também são bem mais baixos que as taxas convencionais.

ÉPOCA - É só isso que o Banco Central está fazendo para diminuir os juros?

Meirelles - Há uma série de outras medidas que deverão contribuir para a queda dos juros. Uma delas é a portabilidade da conta-salário, que permitirá ao trabalhador determinar em qual banco quer receber seu dinheiro. Ela ainda precisa de regulamentação, mas isso deverá ser feito até o fim do ano. Existe também a questão da investigação das práticasconcorrenciais (hoje restrita ao Banco Central). Um projeto de lei em tramitação no Congresso dá poderes ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para reprimir e prevenir infrações no sistema financeiro. Com isso, os bancos terão de disputar mais o cliente e reduzir as taxas para conquistá-lo. Em breve, o Supremo Tribunal Federal deverá publicar um acórdão que define como o Código do Consumidor deve ser aplicado em operações bancárias.

ÉPOCA - Nos Estados Unidos, os bancos expõem na vitrine as taxas que cobram de juros dos investimentos e dos empréstimos. Não poderíamos fazer isso aqui?

Meirelles - Existe a divulgação de taxas no site do Banco Central. Mas as sugestões são bem-vindas. Quanto maior a divulgação das taxas que as instituições praticam, melhor. O câmbio não tem o objetivo nem de ajudar nem de prejudicar ninguém. É um preço fixado pelo mercado.

ÉPOCA - Na área cambial, por causa do dólar baixo, também há muitas críticas à atuação do Banco Central. O câmbio atual não prejudica as exportações?

Meirelles - O câmbio não tem o objetivo nem de ajudar nem de prejudicar. É um preço fixado pelo mercado. O preço atual da soja, por exemplo, ajuda ou prejudica? E o do petróleo? E o do cimento? O preço existe como resultado da oferta e da procura. No câmbio, é a mesma coisa. Essa idéia de que o governo deve fixar a taxa de câmbio já gerou problemas gravíssimos ao país. Em 2006, o Brasil deverá ter um saldo comercial de US$ 45 bilhões. Isso significa que a balança de pagamentos vai muito bem, obrigado.

ÉPOCA - O Banco Central não poderia puxar o dólar para cima?

Meirelles - O Banco Central compra moeda forte dentro de sua avaliação do que é adequado e possível fazer sem criar distorções no mercado e desequilíbrios que podem prejudicar o país. Não há como controlar a taxa de câmbio. O Banco Central compra dólares no mercado para reforçar as reservas cambiais do país, que hoje estão no patamar recorde de R$ 83 bilhões. Mas isso faz parte de uma política de recomposição de reservas previamente estabelecida.

ÉPOCA - E a autonomia formal do Banco Central, vai sair?

Meirelles - Um dos fatores que fazem com que as pessoas sejam contra a independência do Banco Central é o conceito que ainda existe no Brasil de que, para crescer, é possível aceitar um pouco mais de inflação. Já está demonstrado que, quando isso acontece, a inflação não só sobe um pouco mais, como também puxa a expectativa de inflação futura e, com ela, a taxa real de juro. Resultado: em vez de crescer mais, como se esperava, o país acaba crescendo menos. A inflação baixa e estável é o caminho para o crescimento econômico. Quando isso for entendido plenamente no Brasil, o país poderá seguir o mesmo caminho de outros países, que dão independência formal a seus bancos centrais. A experiência internacional mostra que, a partir do momento em que o Banco Central se torna independente, as taxas de juro e a inflação tendem a cair no longo prazo. A sociedade passa a acreditar que a inflação ficará dentro da meta.

ÉPOCA - Muita gente diz que o senhor é insensível na condução da política monetária. Isso não o incomoda?

Meirelles - Incomoda e preocupa. Incomoda porque todos os funcionários do Banco Central, que são profissionais de altíssima qualidade, trabalham duro para fazer uma política monetária elogiada no mundo inteiro. E preocupa porque mostra a incompreensão de muita gente sobre o funcionamento da economia moderna e o papel do Banco Central. Isso gera incerteza e adiciona risco. Se um Banco Central que cumpre as metas de inflação há quatro anos é tão criticado assim, isso significa que existe um risco teórico de que haja alguma mudança na política monetária e a inflação possa voltar, provocando a elevação dos juros.

ÉPOCA - O senhor é considerado hoje o inimigo público número um do crescimento e do desenvolvimento...

Meirelles - Eu diria que é o contrário. Quem mantém a inflação na meta é o amigo público número um do crescimento. País nenhum do mundo cresce com inflação elevada e Banco Central frouxo e irresponsável. E o Brasil é a maior prova disso. Já tivemos a mais longa hiperinflação. Não queremos viver isso de novo. Essa é a grande mensagem. É importante ficar claro que inflação dentro da meta éprecondição para o desenvolvimento.

ÉPOCA - Provavelmente, o senhor nunca entrou no cheque especial. Mas deve conhecer quem entrou. O que fazer quando isso acontece?

Meirelles - Eu entrei no cheque especial, sim. A pessoa deve procurar uma instituição que lhe ofereça crédito a taxas menores para pagamentos mensais que lhe permitam liquidar o crédito especial. Ele não deve ser usado de forma permanente, porque tende a ser mais caro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é a toa que o Lauande é um neo liberal, só pode colocar esse presidente do BC com "apropriado". Comunista de araque...

Anônimo disse...

Taí gostei da visão dele. Serena e precisa. É bom saber que tem um homem assim no BC