Caros amigos,
O nosso amigo mocorongo e flamenguista Lúcio Flávio Pinto, o melhor jornalista da história do Pará, solicita a publicação de sua resposta aos vários comentários postados aqui no blog na minha mensagem abaixo "Saiu mais um Jornal Pessoal". Sua réplica é bastante esclarecedora e histórica. Vale a pena lê-lo porque desmente muitas coisas que foram ditas aqui por alguns blogueiros.
Aquele abraço,
Lauande
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Meu caro Lauande.
Peço-lhe para inserir no seu blog o que se segue.
Outro dia lembrei no Jornal Pessoal o dístico de um jornal de Marselha anotado pelo Álvaro Lins: a opinião é livre, os fatos são sagrados.
Qualquer um tem direito à opinião que quiser expressar a meu respeito. Mas não a me atribuir fatos que jamais existiram.
Numa de suas ações contra mim, logo depois da agressão, Ronaldo Maiorana me acusou de ter chamado sua mãe de prostituta. Reagi com uma interpelação judicial: que provasse onde chamei Déa Maiorana de puta (conforme a expressão por ele usada). Ele fugiu da interpelação. Seria simples: bastaria juntar um texto meu com a frase que me atribuiu.
Ninguém a encontrará. Por um único motivo: eu nunca a escrevi. Conheço a história de Déa, como a de Romulo. Já falei a respeito várias vezes. Passagens mais conturbadas de suas biografias já foram referidas no JP, inclusive recentemente. Mas nunca pratiquei a sordidez que pessoas tentam me impingir. Déa jamais foi ofendida por mim. Quando sua filha, Rosângela, propôs cinco sucessivas ações judiciais contra mim, a partir de 1992, tentando desautorizar o que escrevi (mas sem exercer o direito de resposta, para contraditar-me de público, como aconteceu em todas as ações de que fui vítima), mandei para Déa uma carta confidencial, que nunca revelei.
Quando os atritos com os Maiorana se intensificaram e tivemos um encontro inesperado, tenso e positivo, num domingo de manhã na banca do Alvino, mandei-lhe outra carta, que igualmente jamais revelei ao público. Mas posso dizer o mote principal do que escrevi: como reagiria Romulo Maiorana às iniciativas dos filhos estouvados? Foi a pergunta que fiz a Déa, nas cartas e na conversa pessoal. Ela sabe muito bem a resposta. Ela sabe muita coisa. Por isso a indiquei minha testemunha em várias das ações promovidas pelos próprios filhos, sem jamais conseguir que ela fosse ouvida. Violentando a garantia legal, sua indicação tem sido sistematicamente derrubada na justiça, graças ao poderio do grupo Liberal. Os filhos temem que a mãe seja obrigada a confrontar fatos que desautorizam os filhos.
Déa foi uma animada e generosa participante do lançamento do meu primeiro livro, quase 30 anos atrás, nas oficinas (em funcionamento) de O Liberal. Ela e o marido estavam felizes com o sucesso da iniciativa, que resultou em mais de 820 livros autografados.
Déa também participou do almoço que tive com Romulo, em seu apartamento de Ipanema, aonde fui a seu chamado para reavaliarmos o pedido de demissão que eu já apresentara. Para poupar Romulo de aborrecimentos numa época em que grave doença o ameaçava, abri mão da minha coluna diária, do Repórter 70 e da participação na televisão. Mas ele se recusou a aceitar meu afastamento: me disse para voltar a Belém e continuar a fazer normalmente o que vinha fazendo. Ele ia segurar a pressão do governador Jader Barbalho, dos seus amigos e dos políticos do antigo PSD baratista, irados contra minhas críticas e exigindo minha cabeça. Diante de Déa, disse a Romulo: "Mas não me vais faltar. hein?". Ele riu, me abraçou e prometeu que não. Mas não cumpriu a palavra, como eu temia: um artigo meu foi censurado, no auge de um tiroteio com o governo. Não aceitando, me demiti.
Quando o corpo de Romulo chegou a Belém, em abril de 1986, acompanhei à distância os procedimentos até que o caixão foi levado para a igreja do Rosário. Aproximei-me cautelosamente de Déa, que estava ao lado do corpo do marido, porque, para todos os efeitos, estávamos rompidos. Ela se virou, me abraçou e, chorando, me disse que Romulo vivia falando em se reconciliar comigo, que não podíamos continuar brigados. Eu a abracei e, também chorando, a reconfortei naquela hora difícil.
Respeito muito Déa Maiorana pelo que fez na vida, enfrentando e vencendo difíceis desafios. Não posso ignorar a história, mas me permito seguir meus princípios éticos e morais sem exceção ao abordá-la de frente, sem hipcrisia e covardia. Um profissional com essa orientação pode dizer a verdade sem ofender, mesmo que sua verdade contrarie alguém. Há cinco maneiras de dizer a verdade, ensinou o poeta Bertolt Brecht. Mas só a diz quem aprende a encontrá-la.
Agride os fatos essa história de que me omiti na época da ditadura e acompanhei Romulo numa tratativa com Jader. A história verdadeira, eu a publico há tempos e ninguém a desmentiu nunca. Está documentada no meu último livro, Jornalismo na Linha de Tiro. Todos os escândalos do primeiro governo de Jader Barbalho foram revelados, tratados e analisados por mim em O Liberal. Basta ir à coleção do jornal para constatar. Depois de veladas ameaças de morte, uma foi dada para a redação de O Liberal e me obrigou a reagir, o que fiz. Eu podia ter-me poupado de todos os problemas se tivesse aceitado do então amigo Jader Barbalho participar do seu governo, quando o formava, na sede do Idesp, em 1982, ainda com a imagem positiva. Ele me chamou para me convidar exatamente em função de artigos que eu escrevi em O Liberal. Enquanto o jornal anunciava que Oziel Carneiro seria o vencedor, eu mostrei analiticamente que Jader ia ganhar, por algo entre 50 mil e 70 mil votos. Jader achou que fiz isso por simpatia. Fiz porque os fatos me fizeram chegar a essa conclusão. E O Liberal, comprometido com o governo federal, mas ainda sem a obtusidade atual, fez a campanha de Oziel, mas não impediu que eu continuasse a escrever minha coluna diária, na qual, como tem sido a regra no meu jornalismo, a opinião é livre, mas os fatos são sagrados. E os fatos se impuseram, como tem que ser.
Rejeitei os convites que Jader me fez e lhe disse que ia continuar apenas como jornalista (o que tenho sido há mais de 40 anos) e crítico. Se errasse, ia me encontrar do outro lado. Político escolado, Jader respondeu que era isso mesmo que esperava de mim. Mas não era: o crítico incomoda, principalmente quando é um aprendiz da verdade e fez da sua divulgação fé de ofício.
Pedi demissão de O Liberal uma primeira vez porque um artigo meu foi censurado. Romulo foi me buscar de volta. Pedi na segunda e derradeira vez pelo mesmo motivo, quando escrevia a parte de cima do Repórter 70, tinha uma coluna assinada e era comentarista da TV Liberal. Sabia que renunciava a uma dose razoável de poder. Mas o único poder que realmente me fascina é o da inteligência. É o único que tenho hoje, aliás, se os meus críticos ferozes me perdoam pela arrogância de dizê-lo. E a ele não renuncio. Acolho com serenidade as críticas, procurando tirar lições delas. Mas peço encarecidamente aos meus críticos que se dêem ao trabalho de apurar o que afirmam, permitindo que nossa controvérsia se faça sobre o fértil solo da verdade e não à base de maledicência primária e raciocínio turvo.
Já escrevi algumas vezes e volto a repitir, para quem interessar possa: o maior jornalista do Pará foi Paulo Maranhão.
Um abraço,
Qualquer um tem direito à opinião que quiser expressar a meu respeito. Mas não a me atribuir fatos que jamais existiram.
Numa de suas ações contra mim, logo depois da agressão, Ronaldo Maiorana me acusou de ter chamado sua mãe de prostituta. Reagi com uma interpelação judicial: que provasse onde chamei Déa Maiorana de puta (conforme a expressão por ele usada). Ele fugiu da interpelação. Seria simples: bastaria juntar um texto meu com a frase que me atribuiu.
Ninguém a encontrará. Por um único motivo: eu nunca a escrevi. Conheço a história de Déa, como a de Romulo. Já falei a respeito várias vezes. Passagens mais conturbadas de suas biografias já foram referidas no JP, inclusive recentemente. Mas nunca pratiquei a sordidez que pessoas tentam me impingir. Déa jamais foi ofendida por mim. Quando sua filha, Rosângela, propôs cinco sucessivas ações judiciais contra mim, a partir de 1992, tentando desautorizar o que escrevi (mas sem exercer o direito de resposta, para contraditar-me de público, como aconteceu em todas as ações de que fui vítima), mandei para Déa uma carta confidencial, que nunca revelei.
Quando os atritos com os Maiorana se intensificaram e tivemos um encontro inesperado, tenso e positivo, num domingo de manhã na banca do Alvino, mandei-lhe outra carta, que igualmente jamais revelei ao público. Mas posso dizer o mote principal do que escrevi: como reagiria Romulo Maiorana às iniciativas dos filhos estouvados? Foi a pergunta que fiz a Déa, nas cartas e na conversa pessoal. Ela sabe muito bem a resposta. Ela sabe muita coisa. Por isso a indiquei minha testemunha em várias das ações promovidas pelos próprios filhos, sem jamais conseguir que ela fosse ouvida. Violentando a garantia legal, sua indicação tem sido sistematicamente derrubada na justiça, graças ao poderio do grupo Liberal. Os filhos temem que a mãe seja obrigada a confrontar fatos que desautorizam os filhos.
Déa foi uma animada e generosa participante do lançamento do meu primeiro livro, quase 30 anos atrás, nas oficinas (em funcionamento) de O Liberal. Ela e o marido estavam felizes com o sucesso da iniciativa, que resultou em mais de 820 livros autografados.
Déa também participou do almoço que tive com Romulo, em seu apartamento de Ipanema, aonde fui a seu chamado para reavaliarmos o pedido de demissão que eu já apresentara. Para poupar Romulo de aborrecimentos numa época em que grave doença o ameaçava, abri mão da minha coluna diária, do Repórter 70 e da participação na televisão. Mas ele se recusou a aceitar meu afastamento: me disse para voltar a Belém e continuar a fazer normalmente o que vinha fazendo. Ele ia segurar a pressão do governador Jader Barbalho, dos seus amigos e dos políticos do antigo PSD baratista, irados contra minhas críticas e exigindo minha cabeça. Diante de Déa, disse a Romulo: "Mas não me vais faltar. hein?". Ele riu, me abraçou e prometeu que não. Mas não cumpriu a palavra, como eu temia: um artigo meu foi censurado, no auge de um tiroteio com o governo. Não aceitando, me demiti.
Quando o corpo de Romulo chegou a Belém, em abril de 1986, acompanhei à distância os procedimentos até que o caixão foi levado para a igreja do Rosário. Aproximei-me cautelosamente de Déa, que estava ao lado do corpo do marido, porque, para todos os efeitos, estávamos rompidos. Ela se virou, me abraçou e, chorando, me disse que Romulo vivia falando em se reconciliar comigo, que não podíamos continuar brigados. Eu a abracei e, também chorando, a reconfortei naquela hora difícil.
Respeito muito Déa Maiorana pelo que fez na vida, enfrentando e vencendo difíceis desafios. Não posso ignorar a história, mas me permito seguir meus princípios éticos e morais sem exceção ao abordá-la de frente, sem hipcrisia e covardia. Um profissional com essa orientação pode dizer a verdade sem ofender, mesmo que sua verdade contrarie alguém. Há cinco maneiras de dizer a verdade, ensinou o poeta Bertolt Brecht. Mas só a diz quem aprende a encontrá-la.
Agride os fatos essa história de que me omiti na época da ditadura e acompanhei Romulo numa tratativa com Jader. A história verdadeira, eu a publico há tempos e ninguém a desmentiu nunca. Está documentada no meu último livro, Jornalismo na Linha de Tiro. Todos os escândalos do primeiro governo de Jader Barbalho foram revelados, tratados e analisados por mim em O Liberal. Basta ir à coleção do jornal para constatar. Depois de veladas ameaças de morte, uma foi dada para a redação de O Liberal e me obrigou a reagir, o que fiz. Eu podia ter-me poupado de todos os problemas se tivesse aceitado do então amigo Jader Barbalho participar do seu governo, quando o formava, na sede do Idesp, em 1982, ainda com a imagem positiva. Ele me chamou para me convidar exatamente em função de artigos que eu escrevi em O Liberal. Enquanto o jornal anunciava que Oziel Carneiro seria o vencedor, eu mostrei analiticamente que Jader ia ganhar, por algo entre 50 mil e 70 mil votos. Jader achou que fiz isso por simpatia. Fiz porque os fatos me fizeram chegar a essa conclusão. E O Liberal, comprometido com o governo federal, mas ainda sem a obtusidade atual, fez a campanha de Oziel, mas não impediu que eu continuasse a escrever minha coluna diária, na qual, como tem sido a regra no meu jornalismo, a opinião é livre, mas os fatos são sagrados. E os fatos se impuseram, como tem que ser.
Rejeitei os convites que Jader me fez e lhe disse que ia continuar apenas como jornalista (o que tenho sido há mais de 40 anos) e crítico. Se errasse, ia me encontrar do outro lado. Político escolado, Jader respondeu que era isso mesmo que esperava de mim. Mas não era: o crítico incomoda, principalmente quando é um aprendiz da verdade e fez da sua divulgação fé de ofício.
Pedi demissão de O Liberal uma primeira vez porque um artigo meu foi censurado. Romulo foi me buscar de volta. Pedi na segunda e derradeira vez pelo mesmo motivo, quando escrevia a parte de cima do Repórter 70, tinha uma coluna assinada e era comentarista da TV Liberal. Sabia que renunciava a uma dose razoável de poder. Mas o único poder que realmente me fascina é o da inteligência. É o único que tenho hoje, aliás, se os meus críticos ferozes me perdoam pela arrogância de dizê-lo. E a ele não renuncio. Acolho com serenidade as críticas, procurando tirar lições delas. Mas peço encarecidamente aos meus críticos que se dêem ao trabalho de apurar o que afirmam, permitindo que nossa controvérsia se faça sobre o fértil solo da verdade e não à base de maledicência primária e raciocínio turvo.
Já escrevi algumas vezes e volto a repitir, para quem interessar possa: o maior jornalista do Pará foi Paulo Maranhão.
Um abraço,
Lúcio Flávio Pinto.
12 comentários:
Pô, Lauande, teu blog tá virando notícia. Legal...Esse texto do Lúcio é realmente histórico.
Lauande, sempre gostei dos textos do Lúcio Flávio Pinto, sou comprador (ou patrocinador anônimo) do Jornal Pessoal, visto que o mesmo não recebe publicidade.
Mas o texto exclusivo no teu blog vai virar mais do que notícia, será referência para os leitores do Lúcio.
Dudu Lauande, realmente teu blog tem um texto histórico. Esse Lúcio é demais. Lúcido, inteligente e coerente. Ganhei o dia.
Ih, mas ele continua dizendo que não é jaderista, tá bom, é pra acreditar em papai noel? até emprego ele arranjou pro irmão no Diário do Pará...é pra acreditar em lobisomem? só se for do tipo "Sobrancelhudo" como bem diz o Juvêncio...
s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l a réplica do Lúcio. Esclarecedor o texto do Lúcio.
Isso que é aula de história.
Fica aqui minha alegria em saber que temos ainda um Lúcio Flávio Pinto.
É isso aí,Launde.o seu blog vai se firmando...gostei de saber de três fatos,por você narrados de sua inicial aproximação com meu velho amigo LÚCIO FLÁVIO PINTO,que faz parte da história paraense...quanto à compra de exemplares extras, bem antes de internet, ele sabe que eu comprava exemplares e mandava para irmãos e amigos no estrangeiro,ou em outros Estados... e que assim ficavam satisfeitos em saber o que estava acontecendo, realmente, no Pará e na Amazônia...fazia e faço coisas deste tipo,em silêncio...longe de badalações...continuemos na luta!
19.DEZ.2006 LUIZ LIMA
ps: meu blog tem fotos e contos novos,e para entrar nele basta clicar em meu nome aí em cima,em letra azul...e comentá-los...cordiais saudações democráticas e literárias...FELICES FIESTAS EN 2007!
O Lúcio merece todas homenagens. Parabéns, Lauande, pela tua iniciativa de ajudar o mocorongo. Só não gostei de saber que ele é flamenguista (rsrsr).
Já tinha lido muito que o Lúcio disse nesta carta no próprio Jornal Pessoal, mas desta vez ele foi provocado por um bando blogueiros. Porém, o Lúcio veio com fidalguia, conceitos democráticos e muitas histórias pra contar. Tudo isso foi muito legal.
A opinião é do Lúcio:"o maior jornalista do Pará foi Paulo Maranhão". Cantei a pedra num comentário.
Se o Maranhão foi, então, o Lúcio é mesmo o maior jornalista do Pará.
Adorei ter mais este espaço para ler Lúcio Flávio Pinto, Lauande. Brinde-nos sempre com estas doses de inteligência e sensatez do nosso grande jornalista.
Luciane.
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