19 de dezembro de 2006

Lúcio Flávio Pinto: um marco na democracia paraense.

Caros amigos,

É pulcra a resposta do Lúcio Flávio Pinto aqui no blog. Eu vejo o quanto é bom ter inteireza jornalística. Porque sei que o Lúcio é um homem honesto e autônomo jornalisticamente.

Eu vou contar três histórias que estive presente e que envolve o Lúcio.

Na primeira eu não lembro se era 1989 ou 1990. Era assim por volta das 19 horas. Eu estava papeando com o Nilson Pinto no seu gabinete de reitor. Estavam lá também as minhas amigas Zélia Amador de Deus e Elizabeth Lucena. No decorrer do papo surgiu o nome do Lúcio. Foi a Beth que narrou as dificuldades do Lúcio em mantém o Jornal Pessoal e seguida ela lançou uma proposta: “Que tal fazermos uma reunião com o Lúcio para podermos ajudá-lo?”. O Nilson na hora topou a idéia. Ligou pro Lúcio e a reunião foi feita dias depois no auditório do Núcleo de Arte da UFPA na Praça da República em Belém. Deu um pouco mais de 10 pessoas. O Lúcio começou a reunião agradecendo, mas disse que não queria qualquer tipo de apoio porque se não perderia sua independência jornalística.

A segunda vez foi com os meus amigos José Maria Quadros de Alencar, Arnaldo Jordy e Orlando Cassique. Era 2002. Estávamos bebendo uns chopps, quando surgiu o tópico “Lúcio Flávio Pinto”. Novamente alguém falou sobre a dificuldade do Lúcio pra editar o JP. Desta vez foi o Cassique. Na oportunidade ele lançou uma idéia: estimular cotas financeiras de pessoas físicas de 100, 200 e 500 reais que financiasse o JP. Essa proposta foi feita e lançada na Lista Democracia (Internet). Quem fez a versão final da proposta foi o próprio Cassique com auxílio do finado Paulo Mogno. Lúcio novamente agradeceu a generosidade da proposta, mas recusou porque perderia sua independência jornalística.

A terceira vez foi em 2005. Dessa vez foi com os meus amigos da Confraria Cachorrada: Dario Amaral, Rafael Salomão, Samuel Soares de Almeida, Leandro Vale Ferreira, Ulisses Galatti, Peter Mann Toledo. Além da nossa madrinha fêmea: Ima Célia Guimarães Vieira. Como era uma sessão ordinária, lá no Bar Copa 70 (sempre nas sextas), começamos a debater, entre tantos outros assuntos, o futuro do JP. Foi quando o Peter lançou a idéia de fazermos um levantamento do custo gráfico do JP e em seguida comprar pelo menos a metade das edições. Chegamos até saber quanto era o valor de uma edição quinzenal. Só que tinha uma inconveniência: comunicar nossa idéia ao Lúcio. Reunimos novamente a Confraria Cachorrada. Foi quando eu disse que era melhor ter outra idéia porque eu tinha certeza que o Lúcio não ia aceitar. De tal modo que o Lúcio dessa nem informado foi da idéia.

Hoje, na mesma idéia e iniciativa do José Maria Quadros de Alencar, eu compro individualmente 05 (cinco) exemplares do JP e acredito que eu não mexo na autonomia do Lúcio. Essa é a melhor maneira de cooperar: comprando o JP.

Eu igualmente quis demonstrar nessas três situações que o Lúcio tem um patrimônio: é sua independência jornalística e isso atinge em cheio seus grandes antagonistas. Aqui no blog “li e vi” que disseram que ele era jaderista e que até que insultou a Déa Maiorana. Tudo aleivosia. Muitos desses acusadores contra o Lúcio são cruéis nos julgamentos. Na maioria das vezes, esquecem que eles não são mediados. Mas crescem (sic) pelos próprios preconceitos deles, pelo inconsciente ou pela linguagem. Em quase todos os casos, são por todos esses fatores juntos. Os maniqueísmos deles se apresentam e o veredicto acaba se resumindo à velha colisão entre o bem e o mal. Confesso que nunca gostei desse maniqueísmo judaico-cristão. Porque os indivíduos são muito mais complexos do que isso.

Aí eu digo e reafirmo: o Lúcio não fica entre o bem o mal, mas apenas no meio com sua seriedade e contra os fatos que as elites paraenses não querem relatar ao povo. Só isso. Mas esse “só isso” é muita coisa numa terra com pouca matriz democrática.

Como as elites paraenses não têm matrizes democráticas, o Lúcio escreve pra dizer que a identidade popular é descentrada e fragmentada. Tem lugar para contradições e ambigüidades. Tal postura que “O Liberal” e “O Diário do Pará” não conseguem ter porque seus interesses comerciais são maiores que os interesses societários.

Lúcio no seu afã sociológico sabe que classe, gênero, etnia, nacionalidade, raça e outras tantas identificações sociais, econômicas e políticas que formam umas estruturas complexas, instáveis e, muitas vezes, deslocada na sociedade paraense, mas que lá no JP têm vez. Tem vez porque o Lúcio aposta nas contradições e deslocamentos que estão nos “fractais da identidade”, como bem dizia Foucault. Ou seja, o Lúcio demonstra que ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim, mas sim a soma de todos os seus fractais. Um exemplo. Eu li o que ele escreveu sobre o Oliveira Bastos na última edição do JP. Um primor. E quando acusam o Lúcio, eu vejo ao mesmo tempo em que definições totalizantes e verdades absolutas revelam apenas a mais torpe forma de arrogância. E são as causas de julgamentos precipitados contra ele.

Quero dizer aqui com isso que não há como discutir ética como querem alguns blogueiros sem levar em conta os conceitos acima. É preciso perceber que as fronteiras teóricas da atualidade são muito tênues. Não há mais lugar para definições messiânicas e mentirosas, utilizadas de forma maniqueísta para satisfazer as simplificações conceituais e pessoais.

E assim o Lúcio sobrevive. Primeiro, porque ele é assisado. Segundo, porque é ele inteligente. E, terceiro, porque tem muita gente honesta que acredita no trabalho dele. E com toda essa argamassa de mistura, faz com que o Lúcio Flávio Pinto seja um marco na democracia paraense. Além do mais, como diz José Maria Quadros de Alencar: “o Lúcio é um dos poucos desta terra que tem e pratica (!) um projeto de sociedade”.

Aquele abraço,
Lauande.

15 comentários:

Anônimo disse...

Lauande, nunca fiquei tão bem, sabendo que outras pessoas fazem o mesmo que eu para ajudar o Jornal Pessoal, e olha que eu não sabia da iniciativa do Alencar.
Eu também compro mais de um exemplar e dou para amigos, é uma forma de manter o JP com vida e independência, assim como seu editor quer.
Então aqui lanço uma proposta, que todos os leitores do blog comprassem cinco exemplares do Jornal Pessoal e façam o mesmo que nós.

Anônimo disse...

Sensacional a tua idéia Lauande: vou comprar realmente mais de um exemplar do JP. Vou comprar também 05 exemplares.

Anônimo disse...

Lauande li seu texto e li a carta do Lúcio: tive uma aula democracia.

Anônimo disse...

Gostei do teu texto Lauande. Mas eu queria colocar algumas questões que até agora não foram colocadas. O Lúcio transcende seu papel de simples relator de acontecimentos e busca uma missão mais ampla, a de ajudar no bom funcionamento da sociedade. Acho legal isso do Lúcio. O JP se envolve deliberadamente em projetos de jornalismo público porque já vi várias vezes o Lúcio incentivar práticas e propostas de cidadania. Isso é um grande mérito do JP que muitos blogueiros não querem debater. Abraços,

Anônimo disse...

Tenho a honra de ler o Lúcio. Como sei que o Lúcio tem honra jornalística. A noção de honra envolve e desenvolve relações de poder, pois sempre há que indagar de que forma e quem pode reconhecer e atribuir honra a alguém, segundo que padrões de conduta honrada. Tem gente que não fica honrado com o Lúcio. Também essas pessoas não querem ter muita honra. Ainda quando atuam elementos de precedência – tais como, negócios escusos e grupo de status ou classe social de caráter elitista. Neste sentido, tenho a honra de saber que o Lúcio é paraense e é uma honra do povo e não das elites.

Anônimo disse...

Quem é o viado nessa história: o Lauande? ou o Lúcio?

Anônimo disse...

Caro anônimo de 1:07,
Não sei se eles são "viados". Que eu saiba eles são casados com mulheres. Não sou advogadas deles. Mas do jeito que vc coloca vem de forma preconceituosa. Se eles fossem viados? E aí? Caro anônimo, entre no mérito. Venho insistindo isso desde a primeira mensagem. Só que seu intituito e de outros blogueiros é insultar. Não vou responder mais nesse nível. Tenho mais o que fazer.

nunesberenice@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Caro Lauande

Manter a independência do Lúcio e de seu jornal é vital para o atual estágio democrático que vive o país e o Brasil. Como podem perceber essa independência só incomoda os poderosos, as elites.

Compro cinco exemplares por quinzena e distribuo nos colégios da Pedreira. A rapaziada e o povo simples estão tentando absorver as mensagens, mas é um processo de aprendizado lento depois de se acostumarem com os jornalecos diários onde o povo só aparece retratado nas páginas policiais manchadas de sangue!

Yúdice Andrade disse...

Lauande, já sacramentei o papel que exerces, para mim, na blogosfera: dar concretude, realidade fática, a idéias que carrego comigo, baseadas apenas em impressões. Sempre considerei Lúcio Flávio um homem sério e um jornalista do tipo em extinção. Apreciei suas idéias, sua inteligência e sua serenidade em palestras a que assisti, nas quais discorria com desenvoltura por temas afetos ao Direito, que é a minha seara.
Agora, com as tuas informações, que certamente são conhecidas por muita gente (infelizmente não eu, mais por desinformação do que pela idade), fico mais convencido de que minha impressão condizia com a realidade.
As pessoas sérias comentam, expõem idéias e até criticam severamente. Os medíocres apenas insultam. Mas a exceção confirma a regra e eu, que não sou besta, vou tratando de me arredar para o lado dos primeiros. Saudações.

Anônimo disse...

Caro Lauande, descobri teu blog por acaso,entrando no blog do Yudice,fui teu aluno na UFPA, em 2000, de Sociologia Juridica, no curso de Direito. Você foi um dos melhores professores que tivemos. Outros colegas também acham o mesmo. Tua didática arrojada, e tua forma de avaliar impar, reforça o elogio acima. Lembro-me de uma ocasião hilária. Era o último período e íamos fazer a ultima avaliação da tua disciplina,foi quando você disse para turma que podíamos fazer o que quizessemos, inclusive fazermos um desenho, ou então, entregar um papel melado de merda, pois o departamento exigia um "papel" como avaliação. Isso era o nosso desejo secreto. Muito bom.
Quanto ao Lúcio, não deixo de comprar seu JP, pois é melhor forma de patrociná-lo, mas agora com a internet também podemos difundi-lo, copiando as matérias e mandando pra maior quantidade de e-mails possível.
Um forte abraço socialista.

Anônimo disse...

Lauande, meu querido, tu és demais. Sou tua fã. Texto faz-me pensar o quanto a inteligência humana é rica. Além do mais quando citas outra figura humana tão rica em conhecimento: o nosso Lúcio. Beijos.

Anônimo disse...

ih, não foi meu nome e foi como anonima. Mas sou Paula Melo, sempre tua colega acadêmica

Eduardo André Risuenho Lauande disse...

Caros amigos, Newton, Gilson, Júlia, Jurandir, Salomão, Berenice, Samuel, Yúdice, Márcio e Paula.
É uma honra tê-los aqui. Confesso, com toda honestidade do mundo, nunca, mas nunca mesmo, imaginei que esse barato do Blog pudessem me proporcionar tantos encontros. Vejo aqui ex-alunos como a Berenice e o Márcio. Amigos distantes como Gilson e Salomão. Amigos de militância como o Newton (Pereirinha) e a Paula. Meu amigo e confrade Samuel. E amigos novos que nem conheço pessoalmente como é o Yúdice. Estou muito feliz com tudo isso. E como é bom ter amizades. Aquele abraço, Lauande.

Anônimo disse...

AQui virou uma casa de debate. Lauande, estás de parabéns.

clicluizlima disse...

Lauande: onde estão aqueles tópicos,nos quais também emiti comentários,para provocar debates por exemplo,contra quaisquer tipos de fanatismos?
Aconselho-te a não escrever assuntos novos todos dias,apagando coisas recentes,por que assim poderás não ser lido...lembro-te que muitas pessoas só vão ao computador no final de semana, ou meia-noite,etc...vai com calma,sem muita sede no pote,para não te engasgares...Mais uma vez,parabéns por abrires esta tribuna de debate...meu blog já está no link do teu blog,ok...assim,se amplia a rede de comunicação...
logo mais estarei na est.gasômetro,para o lançamento do livro do amigo Alfredo Oliveira,sobre o carnaval paraense,por apenas R$10...ONTEM ESTIVE NO MUSEU DE ARTE SACRA,COMPRANDO O LIVRO S/DALCÍDIO JURANDIR...ATÉ MAIS: LUIZ LIMA
BELÉM,PA - 28.DEZ.2006 - 14H.