Caro Lauande.
Do fundo do coração, muito obrigado por sua mensagem.
Do fundo do coração, muito obrigado por sua mensagem.
Ela me tocou profundamente não porque sua avaliação me foi favorável. É porque me pareceu justa. Destaca exatamente o que considero o maior mérito do esforço profissional de jornalistas como eu: mostrar a complexidade das questões, tanto as pessoais quanto as coletivas, as espirituais e as materiais. A história é muito mais complicada do que dela dão conta os esquemas explicativos daquele tipo de sacerdote que cultuta a dita cuja oferecendo-a em sacrifício no altar do dogmatismo e dos vários redicionismos (hoje, é mais heurístico combinar Marx com Weber ou com Manheimm do que aplicá-lo exclusivamente, ortodoxamente).
Não fora assim, eu já teria desistido de lutar por uma situação mais favorável à nossa Amazônia e ia tratar do meu precário destino pessoal. O acompanhamento que há 40 anos faço deste derradeiro, diabólico e fascinante capítulo da história da região, até recentemente vendo com meus próprios olhos os momentos mais importantes dessa narrativa, me ensinaram que é preciso estar com os conhecimentos e a agenda em dia para confrontar o enredo tecido de fora pelo colonizador, rejeitando-o ou o ajustando aos nossos interesses. Estudo cada caso in situ e no seu contexto mundial, sem o qual podemos ficar com um entendimento restrito e distorcido (os "grandes projetos" têm raízes invisíveis a olho nu, exigindo perfuratrizes especializadas para a sua compreensão). E em cada caso aprendi que se estivéssemos atentos e preparados para enfrentar as questões impostas pela "ocupação" (no sentido de invasão mesmo), poderíamos chegar a um produto mais adequado. Foi assim no caso do projeto da fábrica de alumínio de Ludwig (que devíamos aprovar, ao invés de boicotar), do seu arrozal (que devia ter sido ajustado em tempo às condições das várzeas amazônicas), do pólo de alumínio de Barcarena (que podia sair muito mais barato e nos levar além do lingote), de Carajás (que podia ter resultado num pólo siderúrgico com mini-mills a redução direta), etc. etc.
Minha geração trouxe ao jornalismo, que herdamos da mais brilhante geração da imprensa brasileira, a da constituição de 1946, a contribuição do rigor da ciência. Como não tínhamos o brilho dos nossos antecessores, verificamos que precisávamos compensar essa deficiência com aplicação, disciplina, método. Fomos buscar a régua e o compasso na Universidade, que poucos dos nossos companheiros mais velhos freqüentaram, seduzidos pela legenda da boêmia nas redações. Não num curso de comunicação social, que se nos apresentava insatisfatório. Eu fui à sociologia, Raimundo Pereira e Bernardo Kucinski à física, e assim muitos outros de nós. Trouxemos ao jornalismo o rigor científico, do qual nossa profissão era carente. Aos duelos de florins dos David Nasser, nos quais o importante era o floreio dos golpes, a forma de dizer, muito mais do que o quê dizer, contrapusemos a demonstração da verdade, feita em cima de fatos. Os fatos se tornaram as pedrinhas que espalhamos na nossa trajetória, certos de que através delas chegaríamos ao destino certo e, por elas, regressaríamos sem erro ao ponto de partida. Migalha de pão pode ser mais bonita, mas é inconsistente. Ela, o passarinho come, ensinou a lenda.
Eis porque lhe escrevo esta mensagem de agradecimento. Sou-lhe grato por identificar tão cristalinamente o valor do que fizemos e ainda fazemos. Somos como que mensageiros da história, levando os fatos aos seus destinatários, que darão à encomenda o uso que melhor lhes aprouver. Mas sem o direito de reclamar de uma entrega materializada. Se não escrevermos uma história melhor do que a que se nos impõem, é porque não quisemos; ou não pudemos. Mas não há desculpa válida: a história efetivamente bate à nossa porta.
Grande abraço,
Lúcio Flávio Pinto
8 comentários:
Outra aula de história
Eu diria também que é aula de jornalismo e democracia. Excelente esse debate entre o Lúcio e o Lauande.
Já fez história teu blog, Lauande.
Fica aqui também minha alegria de ler o Lúcio e o Lauande.
Lauande teu blog está iluminando nossas mentes neste final de 2006. Vejo que finalmente as luzes da inteligência paroara, tão boicotadas nos ditos grandes jornais locais, encontraram um túnel pelo qual estão fazendo jorrar um clarão de lucidez neste torrão amazônico. Tão judiado pelas pelas trevas da ignorância. Que 2007 seja o ano da virada e que finalmente o debate político e econômico sobrte o Pará prospere!
Lauande, disse em outro comentário que o teu blog ia virar referências aos leitores do Lúcio Flavio Pinto. Isso já está acontecendo. Que bom, agora temos mais uma fonte de leitura do Lúcio.
Esta é a novidade do final de ano: poder ler LFP na internet.
Será que desta vez ele se rendeu ao texto virtual e vai deixar o seu JP?
Lauande, aqui do RJ leio teu blog. Conheço um pouco do Lúcio muito mais por você. Mas conheço do Lúcio agora com outro olhar. Por mais enganoso que seja qualquer olhar, porém vejo o olhar do Lúcio com uma pluralidade humana. Isso conta pra mim. Lauande, sou agora diariamente teu leitor de muitos olhares. Viva o blog do Lauande!
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