14 de junho de 2007

A barbárie da bala perdida


Eu confesso que fico impressionado com as notícias de bala perdida. Porque tem sido notícia quase diária na imprensa. Raro é o dia em que jornais, rádios e tevês não noticiam tragédias relacionadas com disparos de armas de fogo.

A violência deixou de restringir-se ao Rio de Janeiro e a São Paulo. Hoje estende os tentáculos. Faz vítimas nos grandes centros urbanos, que, além do crescimento populacional e econômico, experimentam a explosão da barbárie.

Tantos homens, mulheres e crianças pelo Brasil afora tombam atingidos por projéteis vindos não se sabe de onde. Vai longe o tempo em que o perigo morava nas ruas. Bastava fechar as portas de casa para se livrar do risco.

Agora, o recinto antes sagrado se tornou tão vulnerável quanto as areias da praia, os bancos da praça ou as pedras das calçadas. Não há lugar seguro. Residências, faculdades, carros, ônibus podem ser atravessados pelo azar. O resultado ganha espaço no noticiário.

A tônica é uma só: inocentes perdem a vida, prejudicam a saúde ou ficam presos a cadeiras de rodas. O trauma deixa marcas não só no corpo. Também a personalidade sofre.

A agonia torna duvidoso o futuro antes promissor - não só das vítimas que engrossam as estatísticas, mas das potenciais que, mais dia menos dia, poderão engordar os índices.

Os brasileiros pagam o preço da facilidade com que se adquirem revólveres, pistolas e espingardas. Arma, hoje, constitui objeto do desejo de bandidos ou de candidatos a entrar na marginalidade. Quem dispõe de recursos compra-a de terceiros. Quem não dispõe forma consórcio. Une-se a outros e a adquire sem dificuldade no mercado negro.

Há também os que invadem residências -não em busca de dinheiro ou jóias, mas de arma mantida em casa. Resultado: abastecidos e confiantes na impunidade, atiram num alvo e acertam outro.

É hora de bater um ponto final na matança e no medo. Impõe-se desarmar a população. Medidas preventivas e repressivas precisam ser postas em prática.

De um lado, campanhas educativas devem fazer parte do dia-a-dia. A consciência de que arma não é brinquedo nem necessariamente segurança para quem a possui constitui passo importante para o êxito da empreitada.

De outro, os serviços de inteligência da polícia têm de atuar a favor do cidadão. Em outras palavras: têm de asfixiar o comércio clandestino - inibindo os compradores e punindo os vendedores.

A receita é simples, mas o remédio só surtirá efeito se aplicado com persistência e seriedade com enormes campanhas na área das políticas públicas de educação e políticas compensatórios, além de uma efetiva atuação inteligente nas áreas de segurança e justiça com todos os poderes envolvidos numa parceria efetiva com a sociedade .

Senão, sem o cuidado devido, o vírus ganhará resistência. Combatê-lo tornar-se-á mais difícil, mais caro e mais demorado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu já leio vc a muito tempo e me impressiono com sua excelente capacidade de escrever sobre variados assuntos. Parabéns, amigo Lauande.