1 de agosto de 2007

A Despedida de Peter

Eduardo Lauande tinha relações especiais.

Aliás, com ele seus interlocutores sempre ficavam com a impressão de que estabeleciam uma relação especial.

Mas com o Museu Goeldi e com aqueles e aquelas que dão vida à instituição, ele tinha - eles e elas tinham - uma relação especial mesmo. Formavam uma confraria, que ele chamava de Cachorrada. Tinham até um mascote, o filho da Ima Vieira, dirigente máxima da instituição. Foi o mascote que fez a caricatura à caneta bic que acompanhou a corbeille de flores que Ima ofereceu-lhe e com ele seguiu à morada terrena final.

Peter é um dos que dão vida à instituição e a este Blog.

É dele o texto abaixo:


Escrever sobre um amigo que se foi de forma tão abrupta e violenta é uma das tarefas mais difíceis. Temos que esquecer a raiva e a injustiça e nos nutrir apenas da memória. Doces memórias. Entre as palavras devemos expressar a sinceridade, as cumplicidades no pensar, as divergências nos julgamentos, as certezas das ações. Enfim, criar do convívio um posfácio de algo que ainda não tinha sido terminado. E o Lauande é isso, uma obra inacabada. Uma obra, porque ele se construia a cada dia e fazia questão de reconstruir um mundo a sua volta, respeitando sempre a imperfeição humana. E nessa incerteza do porvir definia a essência de seu ideal comunista. Enxergava espaços para mudanças em tudo. Maduro a cada dia observava que a continuidade da história era uma oportunidade para aperfeiçoar uma obra-prima, o da convivência respeitosa entre as sociedades e sua natureza. Escolheu a política, a dialética e sociologia como instrumentos dessa mudança. Como temperos: o amor, a paixão e o respeito. Escreveu, pensou, instigou. Irreverente, gostava de criar expectativas e provocar 'lauandices', travessuras personalizadas. Necessitava compartilhar todos a todo tempo. Sentíamos que éramos necessários para o seu mundo. Lia, refletia, criava e depois saia pelo mundo afora pintando a realidade com cores que nos tiravam da inércia e do cotidiano. Eduardo era tudo menos banal. Engraçado, nunca o chamei de Eduardo esses anos todos. Um artista humanista esse libanês bicolor. Na sua feição uma verdadeira reverência ao pai, Salim. Vejam suas fotos. Olhem seu olhar. Sempre vivo, pensativo.Como diria uma amiga, ele iria cedo demais em qualquer circunstância, hoje ou daqui há 30 anos. Ele não se pertence mais, é nosso! Na memória, nos corações, nas saudades. Teremos muitas. E lembraremos como ele sempre quis, pensando que sua vida seria um exemplo para que pudéssemos fazer de hoje um mundo melhor para outros. Inté, amigo confrade do mais alto clero. Ganhaste de nós um posto de referência de vida. Nossas saudades de sua ausência são agora eternas. Suas escritas iremos reler e citar por anos e anos, e vamos crescer e nos aprimorar com elas. E no nosso imaginário já deve estar até compartilhando nossos textos de saudade com velhos amigos e parentes na sua Passárgada, terra de Mocajuba. Beijo na testa para você também : "Adoro esse cara!" Aplaudimos sua trajetória e o que você significou para todos nós: "São poucas, mas são sinceras!" Sempre os aplausos serão insuficientes, meu camarada.




Muito obrigado pelo belo texto, caríssimo Peter.




postado por JOSÉ DE ALENCAR

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