1 de agosto de 2007

Lutar com palavras

Ponho aqui no blog uma mensagem do Lauande para a lista democraciaBR, uma “fofocagem acadêmica”, como ele mesmo diz. Essa carta é uma aula do que é escrever, breve, objetiva e, como tudo que ele fazia, transbordante daquele jeito especial, afetuoso e bem humorado, suas marcas registradas. Fala dos amigos, do que lia quando navegava por aqui, de montar este blog [idéia do Peter] e da internet, o “maravilhoso e democrático oceano societário”. Curtam.
Alyda

29 de novembro de 2006

Caros amigos,

Eu ultimamente tenho recebido, em média, quase 40 respostas dos meus artigos. É claro que eu não me considero nenhuma coca-cola literária e muito menos política. Seguindo o grande teatrólogo Plínio Marques: “vou escrevendo errantemente minhas besteiras”.

É verdade, por outro lado, que eu tenho uma mala eletrônica que tem quase 900 e-mails, fora as listas da Democracia, Cachorradanet e APSERJ. E da dialética marxiana: da quantidade pode-se ter a qualidade, logo eu respondo que tenho uma qualidade de amigos que respondem a tudo que escrevo de besteira. Uns criticam, outros agradecem e têm até outros (pasmem!) que fazem elogios.

Meu amigo Peter Mann Toledo diz que através dos meus artigos, eu tenho uma qualificação: de palpiteiro societário. Porque a bem da verdade vou escrevendo sobre tudo e todos. “Coisas de sociólogo”, diz meu amigo Leandro Ferreira (pesquisador do Museu Goeldi). Certa vez, Octavio Ianni, de forma descontraída, disse “que nós sociólogos somos um bando de fofoqueiros acadêmicos”. (ahahahahah)

Por conta dessa minha fofocagem acadêmica, o Peter inclusive fez um conselho: “que tal um blog?”

Eu até quero e sonho com isso, mas pensei e repensei constatei que só sei escrever e sou um neófito no manuseio do mundo da Internet. Eu apenas abro meus e-mails (yahoo e ig), viajo um pouco em alguns jornais, abro alguns blogs e só. Porque não sei navegar direito, mas sei que eu preciso. Aliás, se tivesse vivo, com certeza Fernando Pessoa ia me reprovar poética e filosoficamente.

Mas ontem a minha ex-aluna Patrícia Lemos (UFPA-1995), ao comentar meu artigo de ontem (A que fim levou Almir Gabriel?), escreveu uma cartinha prá mim: “Querido mestre Lauande, nunca pare de escrever. Eu discordo de muitas coisas que o senhor escreve e em outras eu concordo em muitas de suas teses e isso me faz pensar que o senhor deve dizer sempre pra todos o quanto é bom escrever e expressar suas opiniões. Por favor, escreva sempre. E crie um blog seu. Sua fã. Beijos, Paty”.

Não vou parar, querida Paty, mesmo ainda sem o meu blog.

Novamente recorro ao genial Fernando Pessoa: “sou um errante e adoro escreve meus erros”. Ou então, como dizia o camarada Graciliano Ramos: “quando nós escrevemos colocamos a solidão de lado e marcamos um ponto na memória”.

E na minha memória errante, eu tenho um sonho: sempre escrever bons textos no meu universo errante. Portanto, escrever um bom texto que mereça ser lido. Eis meu sonho de cada dia.

Uma jovem colega socióloga que se inicia na profissão me perguntou como fazê-lo. Acho que o primeiro passo pra se gerar um bom texto é sentir prazer pela escrita. Gostar de escrever. E desencadear as palavras de modo informal, espontâneo, quase como se estivéssemos a contar um bom ‘causo’.

Pode parecer relativamente fácil essa tarefa, mas, para nós sociólogos, que lutamos com as palavras todos os dias, a coisa não é bem assim. É que têm dias em que “a cachola não tá grande coisa” com bem diz minha mãe. A inspiração não bate direito e nessas ocasiões cabe muito bem a expressão tirar leite das pedras.

Ter subsídios, informações sobre o que se vai discorrer é lógico que é fundamental. Mas um texto frio, sem emoção, sem nada que transpareça o nosso dedo ou nossa verve, francamente, não tem coisa mais chata. Os próprios leitores, quero crer, não agüentam ler esses textos sociológicos até o final. E ninguém merece isso.

Admiro o estilo de alguns colegas sociólogos. Um bom texto é aquele onde nos flagramos lendo-o inteirinho, sem deixar nada pra trás. É também aquele que respeita a nossa inteligência, onde o autor coloca a sua ou a opinião das fontes, mas jamais inserindo-as como verdade absoluta.

E gosto muito mais de ler artigos, do que reportagens. Os artigos, além da informação que trazem embutidas, trazem a opinião de quem escreve e um texto produzido de forma muito mais libertária só que às vezes perigosamente inconseqüente.

E foi pensando nisso que hoje tenho viajado (viu, Fernando Pessoa!) em muitos blogs do mundo da política aqui no Pará e no Brasil. Assim eu leio habitualmente:

www.informante.net Alexandre Porto
www.bresserpereira.org.br Besser Pereira
www.noblat.com.br Ricardo Noblat
http://www.vermelho.org.br PCdoB
www.blogdodirceu.blig.ig.com.br José Dirceu
www.franklinmartins.com.br Fanklin Martins
www.blogdomino.blig.ig.com.br Mino Carta
http://www.cartacapital.com.br Carta Capital
www.uolpolitica.blog.uol.com.br Fernando Rodrigues
http://clipping.planejamento.gov.br Ministério do Planejamento
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/ Observatório da Imprensa
www.luisnassifonline.blog.uol.com.br Luis Nassif

E os paraenses:

http://www.quintaemenda.blogspot.com Juvêncio Arruda
http://pererecadavizinha.blogspot.com Ana Célia Pinheiro
http://www.blogdobarata.jor.br Augusto Barata

Quando viajo nesses blogs, eu confirmo uma opinião que tenho há mais de dois anos: o melhor texto da comunicação brasileira, hoje, está na Internet e estou disposto a comprar briga com quem disser o contrário.

Digo mais: é também na rede mundial dos computadores a melhor qualidade da comunicação tupiniquim. E não nos sites oficiais das grandes corporações. Nos blogs e similares desse mundão virtual, onde o jornalista (outra profissão que precisa das palavras) fica mais a vontade para falar sobre isso ou aquilo, sem as caretices do jornalismo meramente acadêmico que já caduca, como caduca a nossa educação formal.

Por isso mesmo que ainda eu não tenho um blog, vou viajando em muitos deles espalhados no mundo pra criar meu élan em escrever neste maravilhoso e democrático oceano societário: a Internet.

Nesta relação dialógica da internet com a informação e as palavras, eu lembro estes versos do Drumonnd que caem como uma luva para todos nós que escrevemos e que lemos: “Outra coisa que sempre ouvi dizer em relação a escrever bem, data da minha adolescência, quando já almejava aloitar com as palavras: quem lê muito, escreve bem. Lutar com palavras / é a luta mais vã / entretanto lutamos / mal rompe a manhã”.

É isso aí.

Aquele abraço,
Lauande.

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