7 de agosto de 2007

Irreparável

Irrepararável

Eu me lembro bem: ele entrou na sala com aquele olhar maroto, quase um riso, e ficou ali segurando a língua dentro da boca por alguns instantes. Foi o Marquinhos do PT estadual quem me apresentou. Era um sábado à noite, final de agosto, início de setembro de 2006. Naquela hora da noite só estávamos nós na produtora. Naquela salinha bem ao lado do banheiro onde mal cabíamos eu, o Giorlando e o Davi Pires – ou, se quiserem, toda a criação da campanha da Ana.
Lauande tinha em mãos uma pesquisa que ele e seus pupilos acabavam de fechar. Só que ele precisava de dinheiro para pagar os custos. E, é claro, em 30 minutos ele já estava discutindo política, dando seus palpites e sugestões sobre como conduzir a campanha, a televisão... Ao final daquela noite de sábado ele já havia desfiado seu rosário infindável de críticas ao PT e eu tinha uma certeza: havia ganho um grande amigo.
A partir dali se intensificaram os contatos, os mails e as visitas bem humoradas e barulhentas do Lauande ao QG da comunicação de campanha. Ao mesmo tempo fui conhecendo os pupilos ao vivo ou por correio eletrônico. Todos tinham por ele um profundo respeito. Assim convivi ou recebi informações de campanha do Júnior, do Jimmy, da Berenice, da Beatriz -, sei lá, devo estar esquecendo muita gente. Sem nenhum exagero: as informações e as análises de dados de pesquisas eleitorais que ele trouxe foram decisivas para orientar a campanha no final do primeiro e durante todo o segundo turno. Sempre havia uma informação secreta que era obtida por amigos postados na campanha adversária. Ou um novo trabalho que viabilizávamos em conjunto. Conversávamos muito e assim – quase de graça – ao final de pouco mais de dois meses eu estava vivendo um dos momentos mais belos da minha vida. Passamos horas ouvindo “vermelho” na festa da vitória. Festejando, bebendo, conversando, planejando o futuro governo.
O que mais me chamava atenção no curto tempo de convívio que tive com ele era a capacidade de sentir prazer em conversar, em discutir, em debater, argumentar. Era feliz de um jeito que eu admirava. Um boteco qualquer, o Copa nas sextas-feiras, e estava armado o cenário para muita diversão e gargalhadas.
O governo? Cheio de problemas, é claro. Mas ele não tinha a menor dúvida: ruim ou bom era o nosso governo e a gente tinha que dar um jeito de fazê-lo funcionar. Na última conversa mais longa uma grande ironia: ele tomando soda limonada. Alguns quilos mais magro, já fora da SEPOF, mas, como sempre, muito feliz. “Vou voltar a escrever no Blog, Paulo. Alguém tem que combater estes caras”. E lá nos fomos até a uma da manhã atualizando a conversa e planejando o futuro.
Na quinta-feira, dia 26 de julho, mandei uma mensagem que deve estar no celular dele até agora. “Preciso falar contigo”, escrevi. E fiquei esperando retorno. Mas quem me ligou não foi ele, foi o Guedes, depois a Socorro Brasil.
Fazia muito tempo que uma tristeza tão profunda não se abatia sobre mim. Já me peguei várias vezes chorando, pensando nele. Na estupidez da morte. No vazio que fica. Na dor dos parentes e amigos mais próximos. Afinal é impossível substituir tanta luz pelo nada.
Me doeu mais ainda não poder estar em Belém para me despedir dele. Dar um abraço na família. Por isto esta tentativa meio desencontrada de dar um beijo no coração dos tantos que sentem fundo sua ausência.

Paulo Heineck

7 comentários:

Unknown disse...

Caro Paulo,

Que belo depoimento!

Lauande era assim mesmo: nos arrebatava de forma avassaladora. Bastava que ficássemos com ele - pessoal ou virtualmente por algumas horas - e pronto, restava-nos aquele gostinho de "quero mais": a alegria, a leveza, a inteligência, a molecagem, tudo misturado numa só pessoa.

O vazio é mesmo incomensurável. Mas, veja só, ficaram os ideais, as lições de tolerância e o senso democrático. Por isso, como disse o Peter: "Lauande não se pertence mais. Agora ele é nosso".
Abraços,
Nely

Anônimo disse...

Valeu Paulo. Espero que o Carlos Guedes de Guedes possa ler tua postagem e acessar esse comentário, para dizer para este impoluto cidadão: que novamente choramos a ausência do gordo. Por outro lado, vivenciamos a grandeza de lembrar suas his(es)tórias. Digo-te, foi uma noite brilhante, sobretudo pelo foco das estrelas que não se ausentaram, e em cada uma delas o sorriso, meio côncavo e meio convexo, porém brilhante, digno das mais belas constelações interplanetárias. Guedes, a noite foi bem agitada. Os moradores do conjunto Mendara fizeram um ATO PÚBLICO contra violência, que aglutinou toda imprensa local. Foi mirífico. No minímo atrapalhou todo trânsito da cidade. Depois, choros, risos e saudades...
Obrigado Paulo Heineck

Anônimo disse...

Farias e amigos:
confesso a vocês que tenho tido uma dificuldade de organizar as idéias, sabendo que ele não está aqui conosco, compartilhando das nossas percepções e visões de mundo. Daqui, de longe de vocês, vou cultivando os insuperáveis momentos que vivemos juntos, eu e o meu amigo e camarada.
Bjs e abraços a todos e todas as companheiras de luta e de saudades.
Valeu PH
Guedes

Hiroshi Bogéa disse...

O remember sempre faz bem, Paulo. E do jeito carinhoso que se conta, muito mais. Resta-nos, reforçando Nely e Peter, repetir uma nova verdade: "Lauande não se pertence mais. Ele é propriedade da vida".

Anônimo disse...

Meu caro Paulo,

Nunca esqueço que Launde nos apresentou. E na primeira noite já partimos para uma bela polêmica regada a muita cerveja. Bom ler mensagem do Guedes. Abraços ao Hiroshy, amigo novo e já profundo do Launde. Boas cabeças, democracia na alma, a saudade gostosa, como gostava nosso Eduardo. Saravá!

João Salame

thashiez disse...

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shasheasl disse...

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