Domingo, 17 de Junho de 2007 (meu post, no morenocris)
Há um voyeur em cada um de nós !
“É preciso queimar todo o passado e reconstruir uma nova vida. Ninguém deve se deixar dominar pela vida vivida até agora, ou, pelo menos, só conservar o que foi construtivo e belo. É preciso sair do fosso e lançar o sapo longe do coração”
Gramsci, em carta à esposa, de 27 de junho de 1932
Eduardo André Risuenho Lauande disse...
Legal ter colocado o Gramsci numa segunda. Eu sou fã do Gramsci desde moleque. Jinkings meu deu um livro, em 1981, sobre cultura do Gramsci. E lá tem uma frase que eu nunca esqueço; "toda verdade é revolucionária". Beijos.
Quando uma verdade é revolucionária ?
Gramsci - www.artnet.com.br/gramsci/arquiv144.htm
Na tarefa consciente de reconstituir o pensamento de Marx, de valorizá-lo por inteiro e de desdobrar dimensões implícitas e menos desenvolvidas, Gramsci aprofunda e estreita inseparavelmente o nexo entre filosofia e política. Vincula a primeira à história do seu tempo e às lutas concretas das classes populares e livra a segunda dos interesses particulares, abrindo-a aos horizontes da “grande política”, a qual nunca pode perder de vista que “a verdade é revolucionária” e que a “a política como mentira” é um lugar-comum que deve ser desmentido pelas novas práticas de um movimento operário, que sabe ser “impossível construir algo de duradouro sobre a falsificação ideológica”. A instauração da verdade, para Gramsci, deve presidir não apenas as relações internas do partido, orientado a enfrentar com maturidade as inevitáveis divergências e a “superar as perigosas cisões, sem adiá-las até o momento em que poderão ser naturalmente perigosas ou até catastróficas” (16), mas deve presidir também as relações que o partido estabelece com as massas, uma vez que, ao contrário das práticas políticas dominantes, “a filosofia da práxis não tende a resolver pacificamente as contradições existentes na história e na sociedade, mas é a própria história de tais contradições; não é o instrumento de governo de grupos dominantes para ter o consenso e exercer a hegemonia sobre as classes subalternas; mas é a expressão dessas classes subalternas que querem educar a si mesmas para a arte do governo e têm interesse em conhecer todas as verdades, também as desagradáveis, e evitar os enganos (impossíveis) da classe superior e até de si mesmas” (17).
Assim, a filosofia da práxis, para Gramsci, é a fronteira mais avançada do pensamento, não só porque incorpora as conquistas mais significativas da reflexão humana ou porque vem dotada de uma visão dialética sintonizada com o próprio tempo, mas principalmente porque, em uma subversão completa de qualquer modelo tradicional, “renova de cima abaixo a própria concepção de filosofia” e se constrói como uma atividade realmente democrática, que considera as massas silenciadas e subjugadas sujeitos capazes de exercer publicamente o direito do logos e, ao mesmo tempo, de se apropriar consciente e coletivamente da direção da sociedade (18).
Ao reestabelecer a participação popular, a dinâmica e a visão de totalidade que derivam da “filosofia da práxis”, Gramsci consegue resgatar o valor fundamental do político nas classes subalternas e introduz, ao mesmo tempo, a necessidade da auto-reflexão no interior do próprio marxismo, que é chamado “não apenas a compreender as contradições, mas põe a si mesmo como elemento da própria contradição [...] e eleva este elemento a princípio de conhecimento e, portanto, de ação” (19).
Estas convicções, para Gramsci, não são recomendações de princípio, mas uma prática concreta, que o levou a não poupar de suas análises críticas figuras de destaque no Partido Comunista. Não apenas da Itália, como no caso das divergências com Bordiga e seu grupo dirigente “de extrema-esquerda [...], que segue o velho método da dialética próprio da filosofia pré-marxista e até pré-hegeliana [...], pelo qual é impossível conduzir a análise objetiva das forças em luta e da direção que elas assumem, contraditoriamente, em relação ao desenvolvimento das forças materiais da sociedade” (20). Para estes, de fato, a revolução, em vez de mobilizar ativamente as forças dos trabalhadores organizados, aparecia como um teorema matemático a ser deduzido de princípios axiomáticos e auto-evidentes. Mas, para Gramsci, também não era muito diferente o marxismo presente na “sociologia” determinística de Bukharin, autor de um ensaio popular de grande divulgação, que traduzia a visão dominante do marxismo soviético e que era preciso combater pela sua concepção vulgar e metafísica de materialismo (21). Não é demais, também, lembrar neste contexto a famosa carta enviada ao Comitê Central do PCUS, em outubro de 1926, um documento de grande coragem e maturidade política que revela amplamente a elevada capacidade dialética e pedagógica de Gramsci, ao analisar criticamente a posição das facções em luta representadas por Stalin e Bukharin, por um lado, e Trotski e Zinoviev, por outro (22). Sendo já bastante conhecidos, não queremos dedicar a estes episódios mais do que uma simples referência.
Era isso o que ele estava me dizendo. Não dá para separar filosofia de política, não é verdade? Veja o que estamos vivendo. Será que esta frase está distante de nossa realidade? Gramsci era o “cara” ! E Lauande o “nosso” !
Beijos, querido.
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