24 de abril de 2009

Lula é o cara!!











Marcelo Carneiro da Cunha* de São Paulo


É dura a vida de colunista e escritor. Não adianta eu falar,
insistir, berrar aqui nesse espaço ou onde mais me deixarem à solta.
Tem que vir o Obama pra dizer em alto e bom inglês que o Lula é o
cara, Lula is the man, e aí sim, a imprensa repete aos milhões, o
Fernando Henrique tem um choque anafilático de tanta inveja e todo
mundo cai na real.

Isso não significa que eu não tenha críticas ao Lula ou ao partido.
Minha relação com eles é mais ou menos a que eu mantenho com as
mulheres: gostaria que fossem muito diferentes, mas, olhem só as
alternativas! Vivemos em um mundo real, com defeitos reais,
consequências infelizes da nossa humanidade. Compreender esse mundo e
governar para ele, tentando ao mesmo tempo torná-lo melhor, com
direito a alguma quantidade de sonho, é o que diferencia um político
competente de um estadista. E Lula é um estadista, o maior que já
tivemos.

Eu acho que boa parte desse preconceito contra o Lula é preconceito
mesmo, do ruim. Olhem o que eu ouvi ontem mesmo de uma moradora de um
bairro nobre daqui. Ela explicou que não torce para o Corinthians,
porque, afinal "tenho todos os meus dentes e conheço o meu pai".
Uffff.

Lula, por exemplo, que mal conheceu o pai, na infância, e não sei
quanto aos dentes, mas sei quanto aos dedos, torce para o
Corinthians. E eleger o Lula foi um momento sublime para os
brasileiros porque ele representou a nossa aceitação de nós mesmos
por nós mesmos, condição essencial para uma nação ser algo maior do
que um mero país. Eleito, Lula nos libertou e o Brasil deu o salto
que todos vivem, mesmo que não queiram ver.

Na América Latina, e eu leio a imprensa dos nossos vizinhos, Lula é
idolatrado como um grande líder nacional, que ama seu povo e se
dedica a defender os seus interesses, ao mesmo tempo em que tenta
sinceramente ajudar e integrar os que nos rodeiam. Somos admirados
por que passamos a nos levar a sério e deixamos de puxar o saco do
primeiro mundo, como fazia o nosso pomposo FHC. Barramos espanhóis
(inocentes, claro) na fronteira exigindo tratamento decente aos
nossos viajantes que entram na Europa. Lula não tem medo de ninguém e
exige estar no G-20, mas junto com o G-8, ou onde quer que se decida
alguma coisa.

Lula ajudou Chávez a sobreviver e hoje o enche de elogios, enquanto
sabota seus piores planos e ajuda o Brasil a vender e ganhar muito
com a Venezuela. Garantiu o empate na quase guerra de araque entre
Colômbia e Equador, fazendo o Brasil atuar como o líder que tem que
ser. Lula abriu agências da Embrapa em países africanos, onde nossa
biotecnologia tropical vai ajudar a combater a fome e criar uma
agricultura moderna. Ele também decidiu que não vamos exportar
petróleo do pré-sal, coisa de país atrasado, e sim derivados com alto
valor agregado. Isso não é lá visão geopolítica e estratégica? Viajou
aos países árabes, nunca antes assunto para nossos governantes e
criou laços que hoje se transformam em comércio, bom para todos.

Aqui dentro, já que o Brasil também é assunto, manteve sim a política
econômica anterior, mas lhe deu a direção social que faltava. E se
alguém acha que isso foi coisa pouca, imaginem as pressões que Lula
sofreu, às quais teve que resistir, enquanto a Argentina, aqui ao
lado, experimentava heterodoxias com o Kirchner e crescia 10% ao ano.
Imaginem o que foi para um ex-torneiro mecânico peitar toda a suposta
elite econômica instalada nos principais veículos de comunicação, que
tentavam dizer a ele para onde apontar o nariz e que aprendesse a
obedecer ou o mundo iria cair, culpa dele. Quem resiste a tudo e
segue firme no caminho em que acredita é um líder. L-Í-D-E-R. Acerta
e erra, mas lidera.

O maior mérito do Brasil de hoje é nosso, do povo brasileiro. Fomos
nós que soubemos mudar, acabar com o PFL, optar pelo moderno e, por
isso, hoje nosso destino se divide entre dois partidos e projetos
viáveis, PSDB e PT. Se os dois são viáveis, o PT é mais generoso, e
por isso a minha escolha.

Provavelmente seguiremos crescendo e nos afirmando como nação moderna
e emergente, capaz de alimentar a si e ao mundo, o que para mim já
está uma beleza, obrigado. Mas, alguém aí ousa comparar o Lula a
gente um tanto insípida, inodora e incolor, como Aécio, Serra e mesmo
a Dilma? Vamos talvez seguir rumo à prosperidade, mas de um jeito tão
mais sem graça. Vocês conseguem imaginar algum desses nomes acima
fazendo a frase sobre "banqueiros brancos e de olhos azuis, que
achavam que sabiam tudo de economia" que hoje é repetida no mundo
inteiro?

Lula, para mim, representa o fim do enorme desperdício que nosso país
sempre praticou, ao ignorar a humanidade e inteligência do seu povo,
acusando-o de ser pouco escolarizado. Eu tenho o privilégio de, de
tempos em tempos, encontrar com leitores de grupos de EJA (Educação
de Jovens e Adultos), na prática turmas de pedreiros, domésticas,
carpinteiros, eletricistas; gente que deixou a escola quando criança
e voltou agora, para aprender, inclusive, a ler. E ser lido por essas
pessoas é uma enorme honra para um escritor que gosta de ser lido. E
eles leem como ninguém, minha gente. Com uma garra e encantamento de
arrepiar. E raramente têm a chance de trazer essa visão absoluta do
mundo, essa experiência toda a para vida do nosso país. Lula,
prezados leitores, fez e faz exatamente isso.

Eu conheço meu ilustre pai, para o bem ou para o mal, tenho
praticamente todos os dentes e certamente todos os dedos, o que me
coloca em uma camada, digamos, privilegiada, no Brasil. Mas, mesmo
que não seja exatamente a minha cara, Lula consegue ser a cara
brasileira da minha alma, de tantas outras almas de nosso país e, por
isso mesmo, ele é, tem sido e vai ser o cara. O Cara, a nossa cara.

Pelo que eu conheço do mundo, essa coluna vai atrair toda uma
desgraceira pra cima desse colunista. Pois, muito bem, que venha.
Esperar menos do que isso, estar menos preparado do que estou para
combater o que vier, seria um desrespeito desse cidadão agradecido
aqui, ao seu presidente, a quem tanto admiro e por quem tenho mais é
que brigar mesmo. Podem vir, serão todos bem recebidos, e vamos em
frente, nós e o Cara, fazer o debate e o país de que tanto
precisamos.

Dizer "Esse é o cara" afirma a negritude do Obama e sua admiração por
Lula. Vivemos melhor em um mundo assim, de aceitações,
reconhecimentos, sinceridades. Se eles, que são políticos, podem,
então a gente pode tudo, até mesmo torcer para o Corinthians,
imagino, nesse admirável mundo novo que o século 21 nos traz.


*
Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o
argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros
importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos
"Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de
escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela
Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus
romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe



Um comentário:

Anônimo disse...

Caramba!!!!

Respeitemos nosso caro colega. Lógico que sim, mas só posso discordar de todas as palavras, Claro!
Fico impressionado como não desejam ou não conseguem por, talvez, não conseguirem acreditar que o mito (rsssss): Lula, caiu por água abaixo.
Foi pego pela justiça, por meio de relatório do MP e? Nada!!!
Tem dado diversas demonstrações de um perfil ditorial (tentando calar a imprensa, por exemplo). Vem pilhando o Brasil (Oi e Petrobrás, por exemplo), mas seus pares aceitam de uma forma bestial de quem não deseja ver, repito, por, talvez, não querer acreditar que no "humilde" sindicalista tenha uma vergonha sem precedente nesse país.
E agora tentam, ainda me vender a idéia de ser um estadista!!! Só rindo.....pra não chorar de ver meu país nas mãos de pungistas.
Bom, vou terminando porque o que acabei de ler aqui foi de uma insanidade nunca visto antes e que não posso concordar, como brasileiro, amante dessa terra e desejo fervorosamente vê-lo progredir para ser uma pátria de verdade, senão para mim, para minha filha e, se Deus quiser, para meus netos.
Não ficarei anônimo.
Meu nome é Fernando Lauande, primo de Eduardo Lauande